domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um rio com luzes amarelas

E cheiro de peixe.

Andamos eu e a alema, ouvindo musicas que na hora pareciam tao altas, imponentes, cheias.
A gente tem mais um mes nessa casa.

No facebook, jah se fala em combinar de se voltar junto. A hora de marcar o voo de volta chegou.

De manha, o irmao mais velho me acordou. Ia comprar cafe da manha, quer um pouco?
Chutinhos embaixo da mesa, guerrinha de restos de mexerica. Mais um mes nessa casa.

Agora eh ferias, entao a gente sai quase todo dia. Sexta, churrasco com alguns colegas de classe. Sabado, cinema com host familia e uma amiga intercambista. Hoje, escrever apresentacao.

A gente sai todo dia com os nossos amigos.
Amigos. Amigos, amigos, amigos...
"Quantos patinhos estao na sua lagoa? E quantos restarao ateh ela secar?"

Sexta-feira eu cheguei bem tarde do churrasco, a mae ficou meio brava. Eu pedi desculpas, passou. Ontem a noite estava no carro com ela e as irmas. Me liga o host irmao: "onde voce estah? Eh melhor ir pra casa cedo hoje, que ela estava brava ontem."

Sei lah.
Nao eh um sentir-se bem, nao eh um sentir-se mal.
Eh soh sentir-se.
Em uma musica de piano.

E um post confuso.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Da lingua

Chines eh uma lingua interessante.



Das etnias

"Chines" nao eh bem a lingua oficial da China ou de Taiwan. Dentro do "Chines" existem uma familia de linguas e dialetos. Isso porque na China existe toda uma variedade de etnias, cada uma com a sua lingua (legal, neh? :P). Pra nao virar bagunca, porem, resolveu-se que o dialeto mais falado, o da etnia Han, seria a lingua oficial: o Mandarim :)

Assim, na China e em Taiwan, o ensino do Mandarim eh obrigatorio, mas isso nao significa que as outras linguas perdem-se completamente. As etnias continuam aprendendo e vivendo as suas linguas.

Aqui em Taiwan, isso acontece com o Taiwanes (dialeto de Taiwan) e o Hakka, lingua da etnia (tchan tchaan!) Hakka.

Assim, no metro, o nome das estacoes e os avisos saos ditos quatro vezes: em mandarim, em hakka, em taiwanes e em ingles (Taipei eh bem internacional). Muitas vezes pessoas conversam em taiwanes (ou em Hakka), e algumas pessoas, principalmente mais velhos, preferem usar o taiwanes (como o meu professor de chines). Os mais jovens sabem, mas nem todos. Uma amiga da escola que fala ingles muito bem nao fala taiwanes nada bem. Outra fala Hakka: "minha mae eh Hakka" ela respondeu quando eu perguntei.
Como isso se desdobra na vida da intercambista?

Facil: quando eu entendo um pouquinho que seja, eh chines. Quando eu nao entendo NADA, eh taiwanes :) (nao me perguntem sobre Hakka xD)





Da pronuncia

No mandarim, ha quatro tons, mais o tom neutro (hey, considere-me sortuda: o taiwanes tem SETE tons). Quatro (cinco, vai) jeitos de se pronunciar um som, sendo que se mudar o tom, mudou a palavra. Pronunciando uma silaba de modo mais forte do que deveria, ou de modo mais lento, ou abaixando um pouco o tom de voz, voce pode mudar completamente o sentido do que voce estah dizendo. Por exemplo: para falar "me dah uma informacao", voce fala algo como "txin wen!", a ultima palavra sendo pronunciada bem "seca" e meio rapida, jah que eh o quarto tom . Porem, se voce se confundir e falar com o terceiro tom (algo como "txin ween"), o sentido vira "por favor me beije" :D

Pode parecer loucura que duas palavras tao "diferentes" tenham sons tao proximos, mas isso acontece porque a lingua chinesa eh conceitual: mesmo com sons tao proximos, os ideogramas sao muito diferentes: 問 (wen! = perguntar) e 吻 (ween = beijar).

Ou seja: pra eles tanto faz que as palavras soem parecidas (as vezes ateh com pronuncias iguais), jah que eles visualizam o sentido nos ideogramas. E, nas conversas, mesmo como palavras com a mesma pronuncia, eles compreendem pelo contexto.

Bem legal, neh? :)

Mas eh claro que pra alguem tentando aprender chines... Os tons geralmente sao a reclamacao maior dos intercambistas. Eh meio dificil identificar os tons numa conversa, e meio dificil colocar os tons em algumas palavras. Ou seja... as vezes nao eh tao divertido assim. :P

Ou ateh eh!

Pra identificar os tons: eh engracado como eles identificam a menor variacaozinha, e pra gente soa exatamente igual.

Nos meus primeiros meses aqui, pedindo ajuda dos meus colegas de classe:

"Hey, como eh que se fala 'dormir'?"
"Shuei Jiao"
"O_O Como assim? Outro dia voce me falou que eh 'dumpling'!"
"Nao, nao. Dumpling eh Shuei Jiao"
"E qual eh a diferenca? o_o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao"
"Hahaha ce tah me zoando xD"
"Nao, nao! Eh super diferente! Shuei Jiao! Shuei Jiao!"
"Eu nao ouco! Fala devagar! o_____o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao."
"Aahn T-T"
"Ouve, ouve. Shuei Jiao. Shueei Jiaao."
"AH! SAQUEI! \o/Me pergunta, me pergunta!!! :D"
"Shuei Jiao?"
"Dormir!"
"Isso! Shueei Jiaao?"
"DUMPLING!!"
"Isso aii! ^-^"
"Agora fala qualquer um rapido!! :D"
"Shueijiao"
"Dormir! Dormir! Dormir, certo? :D"
"Nao. Dumpling"

Essa cena se repetiu umas quatro ou cinco vezes.
Ateh hoje eu nao vejo diferenca quando eles falam rapido :D


Pra colocar os tons: varias vezes nos vamos falar alguma coisa, e diante da cara de interrogacao do nosso amigo, ficamos tentando variar os tons ateh achar o certo:

"hey! ni hao!"
"o_o"
"ahm... ni haAo?"
"o_O"
"Ni haao?"
"aah! :D"
"ufa ^____^"


Dos ideogramas

Os ideogramas, como o proprio nome jah diz, representam ideias. Ou seja, quando voce os le, voce le um conceito. Cada um deles tem um significado, mas eles nem sempre aparecem sozinhos: geralmente sao combinados com mais um ou dois, formando uma palavra.
Assim, combinando o ideograma de "procurar" com "alcancar", temos a palavra "encontrar". Combinando "lar" com "pessoa", temos "familia", e combinando "ter" com "nome", temos "famoso".
O que faz perfeito sentido... soh que as vezes a gente tem que usar um pouco a imaginacao.
Por exemplo, a palavra para "cuidado" eh "xiaoxin". "Xiao" quer dizer pequeno, e "xin" quer dizer "coracao".
Ou seja: pra dizer "tome cuidado", a gente fala "coracaozinho".

Outra coisa interessante eh a ordem dos ideogramas pra formar uma palavra.
Numa viagem em familia (primeira familia ainda) para uma cidade chamada Hualian.
"Hualian... Hua... esse "hua" nao quer dizer flor? Eh, eh isso ai, flor. E esse "lian"? Dicionario, o que quer dizer esse "lian"? "Lotus! Ah, puxa!"
- Hey! "Hua" quer dizer "flor", certo?
- Isso ai.
- E "lian" quer dizer "lotus"?
- Isso ai. Very smartu!
- Entao "Hualian" quer dizer "Flor de Lotus"? :)
- Nao... pra dizer "flor de lotus" voce tem que falar "Lianhua".
- Oh... entao o que eh "Hualian"?
- O nome da cidade. No meaning.
Entao tah.


Do aprendizado da pronuncia

Quando voce le por aqui, seja uma placa, um jornal ou a legenda de um filme, voce nao le letras que te ensinam ao mesmo tempo a pronuncia e o significado da palavra; voce le ideogramas, que te contam o que as palavras estao te dizendo, mas nao te dizem como elas fazem isso. Assim, se voce quiser ler um texto em voz alta, ou voce jah sabe a pronuncia ou se vira pra perguntar.
Agora... como eh que eles fazem pra te ensinar a pronuncia correta? Ou ainda, pra ensinar nas escolas?

Na China, eles usam o pinyin (metodo aprovado pelo governo chines pra ensinar estrangeiros, e, se o que eu ouvi falar estiver certo, pra ensinar nas escolas tambem), que eh a representacao da pronuncia com letras do alfabeto romano e acentos :)
Po, que facil pra mim, nao? :D
Infelizmente, isso eh na China :) E de acordo com a Wikipedia, em algumas partes de Taiwan, mas definitivamente nao na parte em que eu me encontro :P Aqui, se eu escrever em pinyin, todo mundo faz cara de interrogacao.

Como eh que funciona aqui, entao?
Bom, eles tem o proprio alfabeto fonetico, o bopomofo, em que cada simbolo representa um som. Combinando esses simbolos, forma-se o som da palavra. Assim, eh livros de alfabetizacao e pra criancas, muitas vezes temos o ideograma, e, do lado, a pronuncia em bopomofo.
Ou seja: alem de ter que aprender os ideogramas, a gente tem que aprender o alfabeto deles :)
Pode parecer dificil, mas, depois que voce entende, eh a coisa mais util do MUNDO. Quer olhar um ideograma no dicionario? Bopomofo. Mesmo se o dicionario for em pinyin, eh facil transferir de um pro outro. Nao sabe a pronuncia de um ideograma? Pede pra escrever bopomofo. Repetir o que eles falam nao ajuda muito, nao dah pra confiar muito na pronuncia de todo mundo. Sabe o porque?
Porque eles tem sotaque taiwanes :P

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Let My Love Open The Door

Eh bom estar aqui :)





Eh estranho, claro. Mas eh bom. Eh diferente do que parece, e do que se espera, e do que se entende.
Agora eh ferias. E, como todas as ferias da minha vida, me dah uma angustia ficar em casa, aumentada pelo pouco tempo que eu tenho aqui. Jah tenho muito planejado pros proximos dias, nada pra hoje. Arranjamos um passeio improvisado pra mais tarde, o programa agora eh atualizar blog, mandar e-mails, escrever relatorios.





Jah eh cinco meses aqui.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "passa tao rapido!!".
A gente piscou e metade do nosso periodo aqui passou. Metade! E ainda parece que a gente nao sabe nada. Nao somente com a lingua, mas sobre tudo. Todo esse mundo que nos cerca. Parece que ainda ha tanto a fazer, tanto a conhecer, tantos lugares e pessoas a visitar. E ao mesmo tempo (como eu falei no outro post), parece tudo tao certo. Tao rotineiro (de um jeito bom). Nao que a gente goste de tudo. Uns gostam mais, outros menos. Uns reclamam muito, outros tentam aceitar. Mas de qualquer modo, tudo faz um certo sentido.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "eu nao sei como vai ser a minha vida depois disso".



Eu jah nao sabia antes, imagina agora.
Eu sei que vou voltar pro Brasil, me enfiar num cursinho e ficar por lah. Mas eh soh isso tambem.
Nao sei o que vai mudar. Nao sei como vai mudar.
Nao sei o quanto de mim jah mudou, nao sei o quanto de mim ainda vai mudar. Nao sei o quanto as outras coisas e pessoas vao mudar.


Agora eh ferias. O Rotary nos levou numa viagem semana passada, tres dias pelo centro da ilha.
Nessa viagem eu me percebi consciente do quanto eu mudei. Nao estou querendo dizer "ooh, eu mudei tanto, blablabla", nao eh isso. O que eu quero dizer eh que eu percebi.
Sabe como eh?
Todo dia a gente cresce um pouco. Uns dias mais, outros menos. Mas, no Brasil ou em Taiwan, no colegial ou na faculdade (ou no cursinho), trabalhando ou sem emprego, todo dia e toda experiencia fazem a gente crescer um pouquinho.
E a gente nao percebe, porque, como me contou a minha tia, o crescimento eh todo dia. Soh que, as vezes, voce para e se olha, e ve algo diferente do que voce achou que estaria ali.
As vezes voce sorri, as vezes voce chora. E as vezes voce aceita.
Nessa viagem, foi o que aconteceu comigo. Eu vi uma pessoa um pouquinho diferente por aqui. Talvez igualzinha pra quem olha, mudou o que, menina? Mas diferente em algumas coisinhas minusculas que pra mim fazem diferenca. Nao tao diferente assim, nada de uma super mudanca, e, claro, um monte de outras coisas ainda por resolver, mas... saca? Diferente o bastante pra me fazer perceber. E sorrir :)



Eh bom estar aqui. Por tantos motivos.
Acho que estar longe do que se conhece, sozinho, faz a gente por as coisas em perspectiva.
Dah pra gente parar e perceber. Enquanto a gente tah percebendo como o "novo mundo" funciona, a gente percebe um pouco como a gente funciona. A gente se encontra em outros olhos e em outras linguas. Quem diria por exemplo que uma menina do Canada, uma dos Eua e uma do Brasil teriam certas coisas tao iguais? Reacoes diferentes, claro. Mas a essencia desses "issues" eh a mesma. Entendi certas coisas minhas observando outros. Encontrei caracteristicas minhas em outras caras. O professor de tambor evita olhar nos meus olhos. Nao fala uma palavra de ingles, por isso morre de vergonha de falar comigo. Ele se preocupa, porem. Fala em chines pra alguem me falar isso e aquilo. De vez em quando vem falar comigo em chines, todo sorridente e tals. Uma vez veio me ensinar uma batida: "one, two, one, two". E toda vez ia embora logo que acabava, a timidez imperando.
Exatamente o que eu faco. Com ele, e outras pessoas com quem me sinto timida.



Aqui vou aprendendo o que eh amar.
Primeiro me colocaram numa familia que nao falava comigo a maior parte do tempo. Agora me colocaram numa casa com uma mae que fica muito em cima. Me deram uma colega de escola (e depois irma) com certos valores bem diferentes dos meus. Me deram colegas de classe com multiplas personalidades (nao decidem se falam comigo ou se me ignoram). Me deram amigos intercambistas, tao perdidos quanto eu. E me deram todos os meus amigos e toda a minha familia a onze fusos horarios de distancia.



Mandei scrap pra Penny, escrevi na carta pra familia, falei ontem pro mexicano: eh facil amar algo que eh exatamente o que voce espera, exatamente como voce quer. Agora, aprender a lidar com o que voce tem, aprender a viver com tanta coisa que te eh estranha, tanta coisa que voce queria diferente, aprender a enxergar a beleza nas pequenas coisas de tudo isso, aprender a deixar passar certas coisas, a driblar as coisas ruins... isso eh amar de verdade, certo?



Eh facil amar alguem que eh o que voce quer. Mas como eh que se ama algo que tem coisas que voce nao gosta?

Como se ama uma familia que conversa soh em chines na mesa de jantar, nao se preocupando em incluir a intercambista ali do lado?
Como eh se ama uma mae que vive cobrando as filhas, mais e mais e mais?
Como se ama uma amiga que, ao primeiro olhar, soh fala de beleza e roupas e caras bonitos? Ou outra que nao eh exatamente falante, ou outra que faz drama por (literalmente) tudo?
Como se ama uma colega de classe que soh fala com voce na aula de educacao fisica, outro que para de falar com voce do nada, e outro que te chama de "chata" num dia e te dah um super sorriso no outro?



Eu tive que vir pro outro lado do mundo pra comecar a aprender a fazer isso, e provavelmente vou passar o resto da vida aperfeicoando a tecnica.



Vou aprendendo o que eh amar nao soh com as pessoas daqui, mas tambem com as pessoas de lah.

Eh facil amar alguem aqui do lado. Abracar, abrir a boca eh soltar um "eu te amo". Ir na padaria e comprar um sorvete, dar uma risada. Como se faz tudo isso com alguem que nao estah aqui?

Eu recebi chocolates, um presepio e um pato de pelucia pelo correio. E um cartao assinado pela familia. Eu abro o orkut ou o yahoo todo dia, e tem sempre alguma coisa por lah. "Any hammerhead can see" e "passa seu endereco". Eu abri o orkut um dia depois do Natal e ganhei um video. Ganhei uma revista pelo correio. Eu abri o msn e conversei sobre ovelhas com uma webcam na minha testa.

Muito amor transmitido pelos ares que vem do outro lado do mundo. Muito amor encontrado por esses ares aqui.

Muita gratidao em um certo coracao, e o unico medo de nao saber transmiti-la.


(eu estou consciente de que estou devendo duas ou tres respostas taiwanesas, e muito mais coisas pra falar sobre esse lugar - aguardem soh um pouquinho :P)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Eu fico triste

Por certas pessoas.

Nao sei como explicar.

Mas sei lah, parece que tem gente que reclama demais.
Eu sei que eu nao posso exigir que todo mundo goste de tudo, e que eu tenho que respeitar os desgostos de outra pessoa. Eu sei que julgar o que outros gostam ou desgostam eh completamente idiota. E parcial, porque isso depende do que eu gosto ou do que eu desgosto.

Mas AINDA assim, na minha opiniao tem gente que reclama demais.

Eu quero desenvolver melhor esse post, mas soh pra dar uma ideia: eu estava lendo o blog de uma menina from us que veio pra Taiwan ha dois anos (lendo os textos do periodo em que ela estava aqui), e ela estava lah, falando do que ela nao gostava em Taiwan.
E bom, um dos motivos era "eles adoram dinheiro".
Ah sim, porque no seu pais isso nao acontece, neh flor?

Nao sei, mas as vezes eu acho que a ingenua nao sou eu :/

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Keep my pace

Quando eu soube do intercambio, primeiro eu queria ir pro Japao.
"Super phoda" pensei. Cultura japonesa, taiko, anime, mangah, sushi... Coisas que jah gosto e admiro ha tanto tempo! Passar um ano com tudo isso vai ser demais.
Eba, pensei. Vou pro Japao :)

Porem. O intercambio do Rotary eh pra jovens de 15 a 18 anos nao completos. Ou seja: se voce jah tem 18 anos, estah fora. A regra eh que voce tem que fazer seus 18 anos por lah.
Claro que nao eh algo tao estrito assim: ha paises que abrem excecoes (ou eu nao estaria aqui, certo? :P). Soh que, infelizmente pra mim, Japao nao eh um deles. "A gente pode ateh tentar" disse o representante do intercambio na Asia "mas vai ser dificil e as chances sao poucas. Mas tem outros paises que abrem excecao! Por que voce nao pensa em ir pra Taiwan?". Hmm... porque eu nao sei nada sobre Taiwan?

Me apresentaram dois taiwaneses. Conversamos, em ingles e um pouco de portugues. Comecei a procurar. Aos pouquinhos. Uma wikipedia de vez em quando, uma procurada no livro de geografia. Muitas e muitas fotos no Deviantart. Eu me recostava na cadeira e sonhava.

Me inscrevi. Fiz uns 600 exames, pedi assinatura na escola. Preenchi uns 5 formularios, mas quatro copias de cada, e fotos 3x4 da minha cara e 5x5 do que eu gosto de fazer. Passei por quatro provas e uma entrevista, mais a entrevista e prova com os pais.
No dia de escolher, chegou a minha vez. Sem microfone, em alto e bom som: "Taiwan". Nao que eu soubesse tanto mais sobre a ilha do que sabia antes. Mas jah sabia o suficiente... ou pelo menos eu esperava ;P

10 meses de espera (ou perto disso). A cada "made in Taiwan" o coracao pulava um pouquinho (nao sei como nao tive um ataque cardiaco xD). Mais e mais fotos na internet. Li umas 70 vezes no blog de uma intercambista em Taiwan todos os textos do periodo do intercambio dela. Entrei num curso de chines. Da China, mas jah era alguma coisa. E na minha cabeca eu jah ia construindo essa imagem de um pais sobre o qual eu nao sabia quase nada. Jah construia uma imagem sobre essa viagem absurda e maluca sobre a qual eu nao sabia quase nada (e nem podia ser diferente).

Ligaram em casa, seu formulario chegou. Voce oficialmente estah aceita no programa, pode comecar a se preparar. Fui no lugar pegar o tal formulario, nao consegui esperar ateh em casa pra abrir. Li os nomes da primeira familia, vibrei que ia ter um irmao. Vi o formulario da escola, com um carimbo vermelho enorme. Cheio de ideogramas que eu nao entendia (e a maioria eu provavelmente ainda nao entendo :P). Meu pai, tah chegando.

Me preparei. Fiz mais 600 exames, registrei em cartorio (eta complicacao), comprei presentes, dei um (ou mais que um) abraco em cada um. Dei um ultimo tchau e entrei na fila de embarque. 24 horas no ceu, e mais umas boas 11 horas em terra. E da janela do aviao, terra a vista! Nao eh que eu estou vindo morar em uma colcha de retalhos?

E ai, bom. Nesse momento eu estou sentada na "lan house" da universidade em que eu faco aula de chines, usando o uniforme verde e roxo de um colegio cujo nome eh escrito em ideogramas, matando o tempo antes de comer meu macarrao na lojinha boa e barata de sempre e ir pro esporte. Tudo isso pra depois pegar o metro e voltar pra casa, onde a gente come macarrao de cafe da manha, eu durmo em um colchao no "chao" (mais ou menos) e tenho uma irma de olhos azuis a dez passos de distancia. E onde soh me chamam de Xiao Qiao (bom, tirando a irma alema).
E eu JURO que ainda nao entendi como tudo isso virou rotina.

Nao estou reclamando, nao mesmo. A rotina nao eh ruim, nas devidas proporcoes, e aqui acontecem coisas aleatorias o bastante pra quebrar a rotina mais do que o suficiente. Soh estou pasma de estar aqui do outro lado do fucking mundo e estar achando tudo isso normal.
Normal o macarrao de cafe da manha.
Normal soh entender metade do que me falam.
Normal olhar em olhos puxados o tempo todo.
Normal os ideogramas em diferentes fontes.
Eu mesma, normal, com qualidades e defeitos que sempre tive, alegrias e tristezas de sempre, soh que em outras linguas(embora eu fique meio bleh com alguns defeitos nao terem mudado ainda).
E, acima de tudo, o ser humano, normalissimo, com todas as suas necessidades e particularidades, iguais, soh que em outras linguas e outras caras. Outras reacoes. Outras culturas. Mas "deep inside" igual.

Me alegra descobrir tudo isso, atravez dos meus olhinhos nao puxados. Me alegra viver tudo isso, mesmo que as vezes me de uma urgencia de viver mais, descobrir mais, sair por ai cantando mais.
E por mais que a saudade ocupe seu papel, me angustia saber que isso acaba, e rapido. Num piscar de olhos, jah se foram 4 meses, afinal de contas.

Uma ilha, completamente diferente do que eu esperava, em diversos aspectos. Uma viagem, extremamente diferente do que eu sonhava, em quase todos os aspectos. Uma sensacao diferente da que eu tinha ao ler "made in Taiwan".
Mas nao sei. Estou aqui, vivendo isso. Vivendo aqui! E isso eh estranho, e irreal, e delicioso e agora rotineiro. E frustrante, quando voce percebe que nao cresceu ou nao aprendeu tanto quanto voce esperava, e uma delicia, quando voce se percebe fazendo ou falando algo que jamais esperaria.

E por mais de vez em quando "all fails". Vou continuar, toda feliz, a "keep my pace".

(ficou uma frase horrivel, eu sei. mas eu nem ligo, tem um porque desses ingleses estarem ai)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu estou em outra casa

Tenho mae, avo (pai da mae), irma mais nova (15), irma mais velha (19) e dois irmaos mais velhos (33 e 35).
E tenho uma irma alema :)

E ela tah tagarelando aqui do meu lado, e eu nao consigo me concetrar pra escrever mais :)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Daqui a duas semanas eu mudo de familia

Vou virar irma do meio, com uma mae e um avo.
E quem sabe, ateh com mais uma irma :) (mas eu nao vou ficar muito animada com isso ainda porque nao eh 100% certo)
Vou conhecer gente nova, viver aventuras novas, conhecer mais pontos de vista, me afeicoar a mais gente.


Ao mesmo tempo, lembrando do comeco, dessa primeira familia, nao consigo evitar ficar triste.
Eh uma saudade que chega antes, acho eu :)
De qualquer modo, dou uma revirada aqui nas fotos (nas poucas que eu tenho deles :P) e vou relembrando tudo.














A primeira pessoa que eu vi foi o host pai. Saia do portao no aeroporto com Juan e Andre - outros intercambistas brasileiros que vieram na mesma viagem. A familia do Juan, logo na frente, com uma faixa enorme com o nome e a foto dele. O Andre, sumiu. E eu ando um pedacinho, perdida naqueles dois segundos sozinha, sem saber o que fazer.
Dois segundos soh. Logo um homem sorridente e engracado (vide foto :P) chamou meu nome com um sotaque engracado. Na mao, um cartaz com o meu nome.
Morrendo de vergonha, manobro meu carrinho em direcao a eles. Um pai sorridente, uma mae seria e um irmao entediado, com um buque de flores. A secretaria do clube de Rotary, eficiente, checa meu passaporte, bate a foto e pronto.
Sozinha com a nova familia.
No carro, falam um pouco comigo, mas falam principalmente entre eles em chines. Eu vou soh ouvindo e nao entendendo nada, e morrendo de vergonha, e procurando alguma coisa, qualquer coisa, pra dizer. Chines nos predios, nas placas, nos ouvidos, me bate o desepero: "quero voltar pra minha casa onde eu entendo o que me falam".
O desespero se foi durante o jantar (as 17h) na casa da avo. O pai e a avo sorridentes. O pai falante. A mae e o irmao serios e timidos. Risonhos, sim. Mas bem mais quietos, interagindo comigo bem menos.
Naquela noite, quem me explicou as regras da casa foi o host pai. O host irmao foi direto pro computador. A host mae eu sinceramente nao lembro. Ia pro quarto, de vez em quando voltava, me explicou soh uma ou outra regra pratica, de lavar a roupa ou o que seja. Sorrindo. Mas timida. Passou a impressao que eu tinha, que ela nao tinha ido muito com a minha cara. Naquele momento, pelo menos.
O resto do tempo foi assim. O pai, sempre sorridente e falante. A mae e o irmao, sorridentes e falantes, entre eles. Travados comigo.
Demorei pra entender que essa quietude toda se trata apenas de timidez, muita timidez. "Eles nao falam quando nao tem o que falar" dizia a mim mesma "e obviamente nao sabem o que falar com voce". A teoria eu sabia de cor, mas e a pratica?
Tentava puxar um assunto, fazer uma graca, mostrar algo que tinha aprendido naquele dia, alguma coisa, qualquer coisa, pra quebrar o gelo. A resposta as vezes eram uns grunhidos, as vezes uma resposta qualquer, e curta.
De vez em quando, porem, eles respondiam sorrindo, as vezes ateh riam, e eu vibrava por dentro quando isso acontecia.
Porem, como jah disse, a teoria demorou pra virar pratica, e tinha dias que eu me abatia por essa quietude toda. Esse "nao-olhar-na-minha-cara", e eu ficava triste. Brava. "Se nao vao falar comigo, tambem nao vou falar com voces". Ficava brava ateh com o host pai, que, quando em familia, tambem ficava quieto. Soh os dois falavam, a mae e o filho, e eu me sentindo assim, deixada de lado.
Olhando agora, percebo que estava enganada.
Olhando agora, percebo o quanto de timidez era isso. Entendo a teoria que jah vinha martelando na minha cabeca. Percebo que muitas vezes, era o host pai quem transmitia a mensagem, mas quem perguntava era a host mae. Ou mesmo o host irmao.
Lembro de uma vez em que eu estava meio mal, nao lembro se era gripe ou jah era o estomago inflamado, e o host pai me disse algo do tipo "Eh pra voce nao comer isso isso e isso... Johnny estah preocupado com a sua saude".
E tantas, tantas vezes mais, que eu simplesmente nao entendi. Tanto por estar "brava", quanto pela lingua: nessas ocasioes Johnny ou host mae falam com o host pai em chines, e meu chines nao era tao bom pra entender (ainda nao eh, apesar de estar um pouco melhor).
O tempo foi passando. Momentos bons vinham, viagens, passeios, algum tempo passado no mesmo recinto.
Aos pouquinhos, fui entendendo. Ficava feliz em observar a familia, ficar mais em silencio, nao participar tanto da conversa. Nao cem por cento, mas jah era o bastante.
O tempo foi passando, a teoria ia entrando, as tristezas vinham cada vez menos.
Semana passada, elas sumiram completamente.
Desde semana passada, as coisas nao mudaram: um pai sorridente e falante. Uma mae e um irmao com quem cada conversa ou sorriso compartilhado vem entre muito silencio. A familia nao mudou.
Mudou o meu jeito de enxergar.
Nao de repente. Ao longo de tres meses.
Mas mudou definitivamente semana passada.
O que eh uma ironia enorme, jah que daqui a duas semanas eu mudo de familia.
Nao me arrependo, porem. Passei por momentos otimos. Ri, olhei, tirei fotos.
Aprendi com eles. Ou pelo menos espero que tenha aprendido. Aprendi sobre timidez, aprendi a nao esperar ser completamente aceita. Ou melhor: a aceitar o jeito dos outros de te aceitarem.
A aceitar as coisas como sao, nao como eu gostaria que fossem.
Porque, no Brasil, ao ler sobre a minha nova familia, jah imaginei pais amaveis e paternais, e um irmao, que, tendo a minha idade, viraria meu super amigo.
Em vez disso, eu ganhei um pai tagarela e meio engracado, uma mae que nao falava comigo, e um irmao que nao olhava na minha cara. Uma familia bem diferente do que eu gostaria.
Um familia bem diferente do que eu gostaria, e da qual eu jah estou morrendo de saudades antecipadas.