E quem sabe, ateh com mais uma irma :) (mas eu nao vou ficar muito animada com isso ainda porque nao eh 100% certo)
Vou conhecer gente nova, viver aventuras novas, conhecer mais pontos de vista, me afeicoar a mais gente.
Ao mesmo tempo, lembrando do comeco, dessa primeira familia, nao consigo evitar ficar triste.
Eh uma saudade que chega antes, acho eu :)
De qualquer modo, dou uma revirada aqui nas fotos (nas poucas que eu tenho deles :P) e vou relembrando tudo.
A primeira pessoa que eu vi foi o host pai. Saia do portao no aeroporto com Juan e Andre - outros intercambistas brasileiros que vieram na mesma viagem. A familia do Juan, logo na frente, com uma faixa enorme com o nome e a foto dele. O Andre, sumiu. E eu ando um pedacinho, perdida naqueles dois segundos sozinha, sem saber o que fazer.
Dois segundos soh. Logo um homem sorridente e engracado (vide foto :P) chamou meu nome com um sotaque engracado. Na mao, um cartaz com o meu nome.
Morrendo de vergonha, manobro meu carrinho em direcao a eles. Um pai sorridente, uma mae seria e um irmao entediado, com um buque de flores. A secretaria do clube de Rotary, eficiente, checa meu passaporte, bate a foto e pronto.
Sozinha com a nova familia.
No carro, falam um pouco comigo, mas falam principalmente entre eles em chines. Eu vou soh ouvindo e nao entendendo nada, e morrendo de vergonha, e procurando alguma coisa, qualquer coisa, pra dizer. Chines nos predios, nas placas, nos ouvidos, me bate o desepero: "quero voltar pra minha casa onde eu entendo o que me falam".
O desespero se foi durante o jantar (as 17h) na casa da avo. O pai e a avo sorridentes. O pai falante. A mae e o irmao serios e timidos. Risonhos, sim. Mas bem mais quietos, interagindo comigo bem menos.
Naquela noite, quem me explicou as regras da casa foi o host pai. O host irmao foi direto pro computador. A host mae eu sinceramente nao lembro. Ia pro quarto, de vez em quando voltava, me explicou soh uma ou outra regra pratica, de lavar a roupa ou o que seja. Sorrindo. Mas timida. Passou a impressao que eu tinha, que ela nao tinha ido muito com a minha cara. Naquele momento, pelo menos.
O resto do tempo foi assim. O pai, sempre sorridente e falante. A mae e o irmao, sorridentes e falantes, entre eles. Travados comigo.
Demorei pra entender que essa quietude toda se trata apenas de timidez, muita timidez. "Eles nao falam quando nao tem o que falar" dizia a mim mesma "e obviamente nao sabem o que falar com voce". A teoria eu sabia de cor, mas e a pratica?
Tentava puxar um assunto, fazer uma graca, mostrar algo que tinha aprendido naquele dia, alguma coisa, qualquer coisa, pra quebrar o gelo. A resposta as vezes eram uns grunhidos, as vezes uma resposta qualquer, e curta.
De vez em quando, porem, eles respondiam sorrindo, as vezes ateh riam, e eu vibrava por dentro quando isso acontecia.
Porem, como jah disse, a teoria demorou pra virar pratica, e tinha dias que eu me abatia por essa quietude toda. Esse "nao-olhar-na-minha-cara", e eu ficava triste. Brava. "Se nao vao falar comigo, tambem nao vou falar com voces". Ficava brava ateh com o host pai, que, quando em familia, tambem ficava quieto. Soh os dois falavam, a mae e o filho, e eu me sentindo assim, deixada de lado.
Olhando agora, percebo que estava enganada.
Olhando agora, percebo o quanto de timidez era isso. Entendo a teoria que jah vinha martelando na minha cabeca. Percebo que muitas vezes, era o host pai quem transmitia a mensagem, mas quem perguntava era a host mae. Ou mesmo o host irmao.
Lembro de uma vez em que eu estava meio mal, nao lembro se era gripe ou jah era o estomago inflamado, e o host pai me disse algo do tipo "Eh pra voce nao comer isso isso e isso... Johnny estah preocupado com a sua saude".
E tantas, tantas vezes mais, que eu simplesmente nao entendi. Tanto por estar "brava", quanto pela lingua: nessas ocasioes Johnny ou host mae falam com o host pai em chines, e meu chines nao era tao bom pra entender (ainda nao eh, apesar de estar um pouco melhor).
O tempo foi passando. Momentos bons vinham, viagens, passeios, algum tempo passado no mesmo recinto.
Aos pouquinhos, fui entendendo. Ficava feliz em observar a familia, ficar mais em silencio, nao participar tanto da conversa. Nao cem por cento, mas jah era o bastante.
O tempo foi passando, a teoria ia entrando, as tristezas vinham cada vez menos.
Semana passada, elas sumiram completamente.
Desde semana passada, as coisas nao mudaram: um pai sorridente e falante. Uma mae e um irmao com quem cada conversa ou sorriso compartilhado vem entre muito silencio. A familia nao mudou.
Mudou o meu jeito de enxergar.
Nao de repente. Ao longo de tres meses.
Mas mudou definitivamente semana passada.
O que eh uma ironia enorme, jah que daqui a duas semanas eu mudo de familia.
Nao me arrependo, porem. Passei por momentos otimos. Ri, olhei, tirei fotos.
Aprendi com eles. Ou pelo menos espero que tenha aprendido. Aprendi sobre timidez, aprendi a nao esperar ser completamente aceita. Ou melhor: a aceitar o jeito dos outros de te aceitarem.
A aceitar as coisas como sao, nao como eu gostaria que fossem.
Porque, no Brasil, ao ler sobre a minha nova familia, jah imaginei pais amaveis e paternais, e um irmao, que, tendo a minha idade, viraria meu super amigo.
Em vez disso, eu ganhei um pai tagarela e meio engracado, uma mae que nao falava comigo, e um irmao que nao olhava na minha cara. Uma familia bem diferente do que eu gostaria.
Um familia bem diferente do que eu gostaria, e da qual eu jah estou morrendo de saudades antecipadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário