segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Let My Love Open The Door

Eh bom estar aqui :)





Eh estranho, claro. Mas eh bom. Eh diferente do que parece, e do que se espera, e do que se entende.
Agora eh ferias. E, como todas as ferias da minha vida, me dah uma angustia ficar em casa, aumentada pelo pouco tempo que eu tenho aqui. Jah tenho muito planejado pros proximos dias, nada pra hoje. Arranjamos um passeio improvisado pra mais tarde, o programa agora eh atualizar blog, mandar e-mails, escrever relatorios.





Jah eh cinco meses aqui.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "passa tao rapido!!".
A gente piscou e metade do nosso periodo aqui passou. Metade! E ainda parece que a gente nao sabe nada. Nao somente com a lingua, mas sobre tudo. Todo esse mundo que nos cerca. Parece que ainda ha tanto a fazer, tanto a conhecer, tantos lugares e pessoas a visitar. E ao mesmo tempo (como eu falei no outro post), parece tudo tao certo. Tao rotineiro (de um jeito bom). Nao que a gente goste de tudo. Uns gostam mais, outros menos. Uns reclamam muito, outros tentam aceitar. Mas de qualquer modo, tudo faz um certo sentido.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "eu nao sei como vai ser a minha vida depois disso".



Eu jah nao sabia antes, imagina agora.
Eu sei que vou voltar pro Brasil, me enfiar num cursinho e ficar por lah. Mas eh soh isso tambem.
Nao sei o que vai mudar. Nao sei como vai mudar.
Nao sei o quanto de mim jah mudou, nao sei o quanto de mim ainda vai mudar. Nao sei o quanto as outras coisas e pessoas vao mudar.


Agora eh ferias. O Rotary nos levou numa viagem semana passada, tres dias pelo centro da ilha.
Nessa viagem eu me percebi consciente do quanto eu mudei. Nao estou querendo dizer "ooh, eu mudei tanto, blablabla", nao eh isso. O que eu quero dizer eh que eu percebi.
Sabe como eh?
Todo dia a gente cresce um pouco. Uns dias mais, outros menos. Mas, no Brasil ou em Taiwan, no colegial ou na faculdade (ou no cursinho), trabalhando ou sem emprego, todo dia e toda experiencia fazem a gente crescer um pouquinho.
E a gente nao percebe, porque, como me contou a minha tia, o crescimento eh todo dia. Soh que, as vezes, voce para e se olha, e ve algo diferente do que voce achou que estaria ali.
As vezes voce sorri, as vezes voce chora. E as vezes voce aceita.
Nessa viagem, foi o que aconteceu comigo. Eu vi uma pessoa um pouquinho diferente por aqui. Talvez igualzinha pra quem olha, mudou o que, menina? Mas diferente em algumas coisinhas minusculas que pra mim fazem diferenca. Nao tao diferente assim, nada de uma super mudanca, e, claro, um monte de outras coisas ainda por resolver, mas... saca? Diferente o bastante pra me fazer perceber. E sorrir :)



Eh bom estar aqui. Por tantos motivos.
Acho que estar longe do que se conhece, sozinho, faz a gente por as coisas em perspectiva.
Dah pra gente parar e perceber. Enquanto a gente tah percebendo como o "novo mundo" funciona, a gente percebe um pouco como a gente funciona. A gente se encontra em outros olhos e em outras linguas. Quem diria por exemplo que uma menina do Canada, uma dos Eua e uma do Brasil teriam certas coisas tao iguais? Reacoes diferentes, claro. Mas a essencia desses "issues" eh a mesma. Entendi certas coisas minhas observando outros. Encontrei caracteristicas minhas em outras caras. O professor de tambor evita olhar nos meus olhos. Nao fala uma palavra de ingles, por isso morre de vergonha de falar comigo. Ele se preocupa, porem. Fala em chines pra alguem me falar isso e aquilo. De vez em quando vem falar comigo em chines, todo sorridente e tals. Uma vez veio me ensinar uma batida: "one, two, one, two". E toda vez ia embora logo que acabava, a timidez imperando.
Exatamente o que eu faco. Com ele, e outras pessoas com quem me sinto timida.



Aqui vou aprendendo o que eh amar.
Primeiro me colocaram numa familia que nao falava comigo a maior parte do tempo. Agora me colocaram numa casa com uma mae que fica muito em cima. Me deram uma colega de escola (e depois irma) com certos valores bem diferentes dos meus. Me deram colegas de classe com multiplas personalidades (nao decidem se falam comigo ou se me ignoram). Me deram amigos intercambistas, tao perdidos quanto eu. E me deram todos os meus amigos e toda a minha familia a onze fusos horarios de distancia.



Mandei scrap pra Penny, escrevi na carta pra familia, falei ontem pro mexicano: eh facil amar algo que eh exatamente o que voce espera, exatamente como voce quer. Agora, aprender a lidar com o que voce tem, aprender a viver com tanta coisa que te eh estranha, tanta coisa que voce queria diferente, aprender a enxergar a beleza nas pequenas coisas de tudo isso, aprender a deixar passar certas coisas, a driblar as coisas ruins... isso eh amar de verdade, certo?



Eh facil amar alguem que eh o que voce quer. Mas como eh que se ama algo que tem coisas que voce nao gosta?

Como se ama uma familia que conversa soh em chines na mesa de jantar, nao se preocupando em incluir a intercambista ali do lado?
Como eh se ama uma mae que vive cobrando as filhas, mais e mais e mais?
Como se ama uma amiga que, ao primeiro olhar, soh fala de beleza e roupas e caras bonitos? Ou outra que nao eh exatamente falante, ou outra que faz drama por (literalmente) tudo?
Como se ama uma colega de classe que soh fala com voce na aula de educacao fisica, outro que para de falar com voce do nada, e outro que te chama de "chata" num dia e te dah um super sorriso no outro?



Eu tive que vir pro outro lado do mundo pra comecar a aprender a fazer isso, e provavelmente vou passar o resto da vida aperfeicoando a tecnica.



Vou aprendendo o que eh amar nao soh com as pessoas daqui, mas tambem com as pessoas de lah.

Eh facil amar alguem aqui do lado. Abracar, abrir a boca eh soltar um "eu te amo". Ir na padaria e comprar um sorvete, dar uma risada. Como se faz tudo isso com alguem que nao estah aqui?

Eu recebi chocolates, um presepio e um pato de pelucia pelo correio. E um cartao assinado pela familia. Eu abro o orkut ou o yahoo todo dia, e tem sempre alguma coisa por lah. "Any hammerhead can see" e "passa seu endereco". Eu abri o orkut um dia depois do Natal e ganhei um video. Ganhei uma revista pelo correio. Eu abri o msn e conversei sobre ovelhas com uma webcam na minha testa.

Muito amor transmitido pelos ares que vem do outro lado do mundo. Muito amor encontrado por esses ares aqui.

Muita gratidao em um certo coracao, e o unico medo de nao saber transmiti-la.


(eu estou consciente de que estou devendo duas ou tres respostas taiwanesas, e muito mais coisas pra falar sobre esse lugar - aguardem soh um pouquinho :P)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Eu fico triste

Por certas pessoas.

Nao sei como explicar.

Mas sei lah, parece que tem gente que reclama demais.
Eu sei que eu nao posso exigir que todo mundo goste de tudo, e que eu tenho que respeitar os desgostos de outra pessoa. Eu sei que julgar o que outros gostam ou desgostam eh completamente idiota. E parcial, porque isso depende do que eu gosto ou do que eu desgosto.

Mas AINDA assim, na minha opiniao tem gente que reclama demais.

Eu quero desenvolver melhor esse post, mas soh pra dar uma ideia: eu estava lendo o blog de uma menina from us que veio pra Taiwan ha dois anos (lendo os textos do periodo em que ela estava aqui), e ela estava lah, falando do que ela nao gostava em Taiwan.
E bom, um dos motivos era "eles adoram dinheiro".
Ah sim, porque no seu pais isso nao acontece, neh flor?

Nao sei, mas as vezes eu acho que a ingenua nao sou eu :/

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Keep my pace

Quando eu soube do intercambio, primeiro eu queria ir pro Japao.
"Super phoda" pensei. Cultura japonesa, taiko, anime, mangah, sushi... Coisas que jah gosto e admiro ha tanto tempo! Passar um ano com tudo isso vai ser demais.
Eba, pensei. Vou pro Japao :)

Porem. O intercambio do Rotary eh pra jovens de 15 a 18 anos nao completos. Ou seja: se voce jah tem 18 anos, estah fora. A regra eh que voce tem que fazer seus 18 anos por lah.
Claro que nao eh algo tao estrito assim: ha paises que abrem excecoes (ou eu nao estaria aqui, certo? :P). Soh que, infelizmente pra mim, Japao nao eh um deles. "A gente pode ateh tentar" disse o representante do intercambio na Asia "mas vai ser dificil e as chances sao poucas. Mas tem outros paises que abrem excecao! Por que voce nao pensa em ir pra Taiwan?". Hmm... porque eu nao sei nada sobre Taiwan?

Me apresentaram dois taiwaneses. Conversamos, em ingles e um pouco de portugues. Comecei a procurar. Aos pouquinhos. Uma wikipedia de vez em quando, uma procurada no livro de geografia. Muitas e muitas fotos no Deviantart. Eu me recostava na cadeira e sonhava.

Me inscrevi. Fiz uns 600 exames, pedi assinatura na escola. Preenchi uns 5 formularios, mas quatro copias de cada, e fotos 3x4 da minha cara e 5x5 do que eu gosto de fazer. Passei por quatro provas e uma entrevista, mais a entrevista e prova com os pais.
No dia de escolher, chegou a minha vez. Sem microfone, em alto e bom som: "Taiwan". Nao que eu soubesse tanto mais sobre a ilha do que sabia antes. Mas jah sabia o suficiente... ou pelo menos eu esperava ;P

10 meses de espera (ou perto disso). A cada "made in Taiwan" o coracao pulava um pouquinho (nao sei como nao tive um ataque cardiaco xD). Mais e mais fotos na internet. Li umas 70 vezes no blog de uma intercambista em Taiwan todos os textos do periodo do intercambio dela. Entrei num curso de chines. Da China, mas jah era alguma coisa. E na minha cabeca eu jah ia construindo essa imagem de um pais sobre o qual eu nao sabia quase nada. Jah construia uma imagem sobre essa viagem absurda e maluca sobre a qual eu nao sabia quase nada (e nem podia ser diferente).

Ligaram em casa, seu formulario chegou. Voce oficialmente estah aceita no programa, pode comecar a se preparar. Fui no lugar pegar o tal formulario, nao consegui esperar ateh em casa pra abrir. Li os nomes da primeira familia, vibrei que ia ter um irmao. Vi o formulario da escola, com um carimbo vermelho enorme. Cheio de ideogramas que eu nao entendia (e a maioria eu provavelmente ainda nao entendo :P). Meu pai, tah chegando.

Me preparei. Fiz mais 600 exames, registrei em cartorio (eta complicacao), comprei presentes, dei um (ou mais que um) abraco em cada um. Dei um ultimo tchau e entrei na fila de embarque. 24 horas no ceu, e mais umas boas 11 horas em terra. E da janela do aviao, terra a vista! Nao eh que eu estou vindo morar em uma colcha de retalhos?

E ai, bom. Nesse momento eu estou sentada na "lan house" da universidade em que eu faco aula de chines, usando o uniforme verde e roxo de um colegio cujo nome eh escrito em ideogramas, matando o tempo antes de comer meu macarrao na lojinha boa e barata de sempre e ir pro esporte. Tudo isso pra depois pegar o metro e voltar pra casa, onde a gente come macarrao de cafe da manha, eu durmo em um colchao no "chao" (mais ou menos) e tenho uma irma de olhos azuis a dez passos de distancia. E onde soh me chamam de Xiao Qiao (bom, tirando a irma alema).
E eu JURO que ainda nao entendi como tudo isso virou rotina.

Nao estou reclamando, nao mesmo. A rotina nao eh ruim, nas devidas proporcoes, e aqui acontecem coisas aleatorias o bastante pra quebrar a rotina mais do que o suficiente. Soh estou pasma de estar aqui do outro lado do fucking mundo e estar achando tudo isso normal.
Normal o macarrao de cafe da manha.
Normal soh entender metade do que me falam.
Normal olhar em olhos puxados o tempo todo.
Normal os ideogramas em diferentes fontes.
Eu mesma, normal, com qualidades e defeitos que sempre tive, alegrias e tristezas de sempre, soh que em outras linguas(embora eu fique meio bleh com alguns defeitos nao terem mudado ainda).
E, acima de tudo, o ser humano, normalissimo, com todas as suas necessidades e particularidades, iguais, soh que em outras linguas e outras caras. Outras reacoes. Outras culturas. Mas "deep inside" igual.

Me alegra descobrir tudo isso, atravez dos meus olhinhos nao puxados. Me alegra viver tudo isso, mesmo que as vezes me de uma urgencia de viver mais, descobrir mais, sair por ai cantando mais.
E por mais que a saudade ocupe seu papel, me angustia saber que isso acaba, e rapido. Num piscar de olhos, jah se foram 4 meses, afinal de contas.

Uma ilha, completamente diferente do que eu esperava, em diversos aspectos. Uma viagem, extremamente diferente do que eu sonhava, em quase todos os aspectos. Uma sensacao diferente da que eu tinha ao ler "made in Taiwan".
Mas nao sei. Estou aqui, vivendo isso. Vivendo aqui! E isso eh estranho, e irreal, e delicioso e agora rotineiro. E frustrante, quando voce percebe que nao cresceu ou nao aprendeu tanto quanto voce esperava, e uma delicia, quando voce se percebe fazendo ou falando algo que jamais esperaria.

E por mais de vez em quando "all fails". Vou continuar, toda feliz, a "keep my pace".

(ficou uma frase horrivel, eu sei. mas eu nem ligo, tem um porque desses ingleses estarem ai)