quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Melodia

Na saída do Ana Rosa, tinha um violinista.
De camisa do Brasil e estojo no chão, aberto para a coleta de doações, ele tocava, tocava e tocava, musicava a trajetória das pessoas que passavam apressadas, rumo a não se sabe onde.

Algumas pessoas, porém, paravam pra assistir. Um velhinho de colete marrom e boina, com bigode branco, com todos os ares de vovô. Um jovem com cara de estudante do ensino médio, de shorts xadrez e uma certa timidez. Uma senhorinha gordinha vestida de rosa, que comentou "aah violino, difícil, né?"
Algumas pessoas só passavam, outras passavam e jogavam um trocadinho dentro do estojo. Uma senhorinha foi indo embora e procurando no bolso, com toda a cara de que ia voltar se achasse alguma coisa. Outra deu as moedinhas falando ao telefone ao mesmo tempo.

Ele agradecia a todos com um sorriso, até que ficou realmente envolvido com sua melodia. Ele violinava, mudava, tocava, inhunhizava e arregalava os olhos e sorria, e arregalava de novo, e aumentava o ritmo, e voltava ao normal, e dava uma cambalhota na melodia, os olhos enormes, acelerava de novo.

De mim, ele ganhou risadas, palmas, duas moedas e um sorriso, "parabéns!".
Dele, eu ganhei um sorriso gigante, "obrigado".
E a melodia, e um sorriso que ficou por mais de três quarteirões.


Um momento doce que faz um dia comum valer a pena.