segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Keep my pace

Quando eu soube do intercambio, primeiro eu queria ir pro Japao.
"Super phoda" pensei. Cultura japonesa, taiko, anime, mangah, sushi... Coisas que jah gosto e admiro ha tanto tempo! Passar um ano com tudo isso vai ser demais.
Eba, pensei. Vou pro Japao :)

Porem. O intercambio do Rotary eh pra jovens de 15 a 18 anos nao completos. Ou seja: se voce jah tem 18 anos, estah fora. A regra eh que voce tem que fazer seus 18 anos por lah.
Claro que nao eh algo tao estrito assim: ha paises que abrem excecoes (ou eu nao estaria aqui, certo? :P). Soh que, infelizmente pra mim, Japao nao eh um deles. "A gente pode ateh tentar" disse o representante do intercambio na Asia "mas vai ser dificil e as chances sao poucas. Mas tem outros paises que abrem excecao! Por que voce nao pensa em ir pra Taiwan?". Hmm... porque eu nao sei nada sobre Taiwan?

Me apresentaram dois taiwaneses. Conversamos, em ingles e um pouco de portugues. Comecei a procurar. Aos pouquinhos. Uma wikipedia de vez em quando, uma procurada no livro de geografia. Muitas e muitas fotos no Deviantart. Eu me recostava na cadeira e sonhava.

Me inscrevi. Fiz uns 600 exames, pedi assinatura na escola. Preenchi uns 5 formularios, mas quatro copias de cada, e fotos 3x4 da minha cara e 5x5 do que eu gosto de fazer. Passei por quatro provas e uma entrevista, mais a entrevista e prova com os pais.
No dia de escolher, chegou a minha vez. Sem microfone, em alto e bom som: "Taiwan". Nao que eu soubesse tanto mais sobre a ilha do que sabia antes. Mas jah sabia o suficiente... ou pelo menos eu esperava ;P

10 meses de espera (ou perto disso). A cada "made in Taiwan" o coracao pulava um pouquinho (nao sei como nao tive um ataque cardiaco xD). Mais e mais fotos na internet. Li umas 70 vezes no blog de uma intercambista em Taiwan todos os textos do periodo do intercambio dela. Entrei num curso de chines. Da China, mas jah era alguma coisa. E na minha cabeca eu jah ia construindo essa imagem de um pais sobre o qual eu nao sabia quase nada. Jah construia uma imagem sobre essa viagem absurda e maluca sobre a qual eu nao sabia quase nada (e nem podia ser diferente).

Ligaram em casa, seu formulario chegou. Voce oficialmente estah aceita no programa, pode comecar a se preparar. Fui no lugar pegar o tal formulario, nao consegui esperar ateh em casa pra abrir. Li os nomes da primeira familia, vibrei que ia ter um irmao. Vi o formulario da escola, com um carimbo vermelho enorme. Cheio de ideogramas que eu nao entendia (e a maioria eu provavelmente ainda nao entendo :P). Meu pai, tah chegando.

Me preparei. Fiz mais 600 exames, registrei em cartorio (eta complicacao), comprei presentes, dei um (ou mais que um) abraco em cada um. Dei um ultimo tchau e entrei na fila de embarque. 24 horas no ceu, e mais umas boas 11 horas em terra. E da janela do aviao, terra a vista! Nao eh que eu estou vindo morar em uma colcha de retalhos?

E ai, bom. Nesse momento eu estou sentada na "lan house" da universidade em que eu faco aula de chines, usando o uniforme verde e roxo de um colegio cujo nome eh escrito em ideogramas, matando o tempo antes de comer meu macarrao na lojinha boa e barata de sempre e ir pro esporte. Tudo isso pra depois pegar o metro e voltar pra casa, onde a gente come macarrao de cafe da manha, eu durmo em um colchao no "chao" (mais ou menos) e tenho uma irma de olhos azuis a dez passos de distancia. E onde soh me chamam de Xiao Qiao (bom, tirando a irma alema).
E eu JURO que ainda nao entendi como tudo isso virou rotina.

Nao estou reclamando, nao mesmo. A rotina nao eh ruim, nas devidas proporcoes, e aqui acontecem coisas aleatorias o bastante pra quebrar a rotina mais do que o suficiente. Soh estou pasma de estar aqui do outro lado do fucking mundo e estar achando tudo isso normal.
Normal o macarrao de cafe da manha.
Normal soh entender metade do que me falam.
Normal olhar em olhos puxados o tempo todo.
Normal os ideogramas em diferentes fontes.
Eu mesma, normal, com qualidades e defeitos que sempre tive, alegrias e tristezas de sempre, soh que em outras linguas(embora eu fique meio bleh com alguns defeitos nao terem mudado ainda).
E, acima de tudo, o ser humano, normalissimo, com todas as suas necessidades e particularidades, iguais, soh que em outras linguas e outras caras. Outras reacoes. Outras culturas. Mas "deep inside" igual.

Me alegra descobrir tudo isso, atravez dos meus olhinhos nao puxados. Me alegra viver tudo isso, mesmo que as vezes me de uma urgencia de viver mais, descobrir mais, sair por ai cantando mais.
E por mais que a saudade ocupe seu papel, me angustia saber que isso acaba, e rapido. Num piscar de olhos, jah se foram 4 meses, afinal de contas.

Uma ilha, completamente diferente do que eu esperava, em diversos aspectos. Uma viagem, extremamente diferente do que eu sonhava, em quase todos os aspectos. Uma sensacao diferente da que eu tinha ao ler "made in Taiwan".
Mas nao sei. Estou aqui, vivendo isso. Vivendo aqui! E isso eh estranho, e irreal, e delicioso e agora rotineiro. E frustrante, quando voce percebe que nao cresceu ou nao aprendeu tanto quanto voce esperava, e uma delicia, quando voce se percebe fazendo ou falando algo que jamais esperaria.

E por mais de vez em quando "all fails". Vou continuar, toda feliz, a "keep my pace".

(ficou uma frase horrivel, eu sei. mas eu nem ligo, tem um porque desses ingleses estarem ai)

Um comentário:

Penny disse...

Seus posts assim sempre me causam arrepios.

Eu fico muito feliz por você. E quero muito ser um dos primeiros olhos redondos que você vai rever quando chegar aqui. :)