Na saída do Ana Rosa, tinha um violinista.
De camisa do Brasil e estojo no chão, aberto para a coleta de doações, ele tocava, tocava e tocava, musicava a trajetória das pessoas que passavam apressadas, rumo a não se sabe onde.
Algumas pessoas, porém, paravam pra assistir. Um velhinho de colete marrom e boina, com bigode branco, com todos os ares de vovô. Um jovem com cara de estudante do ensino médio, de shorts xadrez e uma certa timidez. Uma senhorinha gordinha vestida de rosa, que comentou "aah violino, difícil, né?"
Algumas pessoas só passavam, outras passavam e jogavam um trocadinho dentro do estojo. Uma senhorinha foi indo embora e procurando no bolso, com toda a cara de que ia voltar se achasse alguma coisa. Outra deu as moedinhas falando ao telefone ao mesmo tempo.
Ele agradecia a todos com um sorriso, até que ficou realmente envolvido com sua melodia. Ele violinava, mudava, tocava, inhunhizava e arregalava os olhos e sorria, e arregalava de novo, e aumentava o ritmo, e voltava ao normal, e dava uma cambalhota na melodia, os olhos enormes, acelerava de novo.
De mim, ele ganhou risadas, palmas, duas moedas e um sorriso, "parabéns!".
Dele, eu ganhei um sorriso gigante, "obrigado".
E a melodia, e um sorriso que ficou por mais de três quarteirões.
Um momento doce que faz um dia comum valer a pena.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Eu nunca mais vou julgar ninguem
"Porque agora estou numa situacao em que eu me julgaria, se nao estivesse nessa situacao.
Eu tomei uma decisao que... bom. Eh idiota.
Muito idiota, e qualquer um me diria isso, inclusive eu te diria isso, se voce tomasse essa decisao. Claro, diria com jeitinho, mas diria.
Muitas pessoas, alias, jah me disseram isso. Algumas com jeitinho, outras assim na lata mesmo.
Entao, porra, eu sei que vou sofrer, porque tomei essa decisao?
Porque... apesar de saber que eu vou sofrer e que as chances de eu sofrer muito sao muito grandes... eh isso que eu quero fazer. Eu quero tentar, e foda-se se vao me olhar feio por isso.
Eu quero tentar, venho querendo faz tempo... e soh o que me impede... eh o medo de sofrer.
Entao eh melhor me trancar no quarto pra sempre e nunca mais falar com ninguem, eis ai como a gente nao sofre.
Eu quero tentar. As chances de fracasso sao grandes, eu sei, mas eu quero poder dizer que tentei. Nao quero olhar pra tras e pensar "poxa, se eu tivesse...". Se eu tivesse o caramba.
Vamos lah.
E se quebrar a cara, bom, eh um aprendizado de qualquer jeito.
Eu estou com medo, muito medo.
Mas eh o que eu quero fazer ;) "
Texto escrito um mes atras, exatamente.
Passou um mes. Nesse mes eu me olhei no espelho e vi uma pessoa idiota e iludida, repetidas vezes. Eu fiquei com o medo a espreita na boca do estomago. Eu sofri e fiquei triste.
Nesse mes eu sonhei. Me senti mais segura de mim e do que eu quero, ou pelo menos, um pouco disso. Sorri e dei risadas, e fiquei feliz. Fiz planos.
Ao fim de um mes, nao me arrependo da tal decisao.
E agora penso um pouco mais antes de julgar as decisoes daqueles proximos a mim.
Tudo acaba sendo aprendizado, afinal.
Eu tomei uma decisao que... bom. Eh idiota.
Muito idiota, e qualquer um me diria isso, inclusive eu te diria isso, se voce tomasse essa decisao. Claro, diria com jeitinho, mas diria.
Muitas pessoas, alias, jah me disseram isso. Algumas com jeitinho, outras assim na lata mesmo.
Entao, porra, eu sei que vou sofrer, porque tomei essa decisao?
Porque... apesar de saber que eu vou sofrer e que as chances de eu sofrer muito sao muito grandes... eh isso que eu quero fazer. Eu quero tentar, e foda-se se vao me olhar feio por isso.
Eu quero tentar, venho querendo faz tempo... e soh o que me impede... eh o medo de sofrer.
Entao eh melhor me trancar no quarto pra sempre e nunca mais falar com ninguem, eis ai como a gente nao sofre.
Eu quero tentar. As chances de fracasso sao grandes, eu sei, mas eu quero poder dizer que tentei. Nao quero olhar pra tras e pensar "poxa, se eu tivesse...". Se eu tivesse o caramba.
Vamos lah.
E se quebrar a cara, bom, eh um aprendizado de qualquer jeito.
Eu estou com medo, muito medo.
Mas eh o que eu quero fazer ;) "
Texto escrito um mes atras, exatamente.
Passou um mes. Nesse mes eu me olhei no espelho e vi uma pessoa idiota e iludida, repetidas vezes. Eu fiquei com o medo a espreita na boca do estomago. Eu sofri e fiquei triste.
Nesse mes eu sonhei. Me senti mais segura de mim e do que eu quero, ou pelo menos, um pouco disso. Sorri e dei risadas, e fiquei feliz. Fiz planos.
Ao fim de um mes, nao me arrependo da tal decisao.
E agora penso um pouco mais antes de julgar as decisoes daqueles proximos a mim.
Tudo acaba sendo aprendizado, afinal.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
I'll be there for you
Como eh que funciona isso?
Como eh que se estah lah para alguem?
Voce tem um amigo. Qual o melhor que voce pode fazer por ele? E por outro? E por mais um? E por um(a) namorado(a)? E pelos seus pais? E pelo(s) seu(s) irmao(s)?
E por todo mundo junto?
As vezes eu me sinto meio desfocada.
Eh tanta coisa pra fazer, tanta gente pra dar atencao... e ao mesmo tempo, acabo nao fazendo nada. Ou assim parece.
Sabe quando voce ve as fotos dos seus pais e pede pra eles te contarem a historia daqueles momentos? E eles viram e falam "poxa, ha quanto tempo eu nao falo com fulano!"... nao dah um certo medo?
Eu sei que nada nesse mundo eh perene (nossa, olha essa palavra! me lembra aula de geografia... sera que eu usei certo? enfim. "duravel", eh o que eu quis dizer)... sei que o tempo passa, voce muda, as pessoas mudam... nada e nem ninguem permanecem iguais. Sei que daqui a dois anos, nao vou falar com muita gente com quem falo hoje. Hoje jah nao falo com muita gente com quem falava ha dois anos atras.
Por alguns a perda eh mais doida, por outros nem se sente. Eu sei que vou perder muita gente e nao vou sentir, sei que muitos vao me perder e tambem nao vao sentir.
Mas eu gostaria muito de poder chegar a idade dos meus pais com alguns amigos de agora.
Gostaria muito de poder olhar pros meus pais nessa epoca e sorrir, sabendo que aproveitei cada momento.
Eu quero saber que fiz o melhor possivel... e, mesmo que aquela certa pessoa jah nao esteja mais na minha vida, quero poder olhar pra tras e saber que, enquanto estavamos juntos, tivemos uma relacao completa, inteira, profunda.
Quando eu me formei, fiz um video para as minhas melhores amigas do colegio... havia algumas fotos, uma musica da Disney e uma mensagem "nem o tempo nem a distancia podem destruir a amizade entre nos".
Um tempo depois, chateada, conversei com o meu pai "poxa, jah nao falo mais tanto com varias delas, esse video parece a maior besteira agora".
A resposta veio na hora "voce sabe que a amizade de voces continua no seu coracao... voce sabe que naquela epoca isso era verdadeiro, e que voce nao deixou de gostar delas. elas ainda estao com voce, ai dentro" (nao nessas palavras exatas, ateh porque eu nao lembro. mas algo assim)
Hoje entendo isso um pouco melhor. Das meninas do video, algumas ainda sao grandes amigas, outras meio que sumiram. Mas mantivemos contato. Com a ajuda do telefone, orkut, msn, fomos nos falando. Claro, nao tanto quanto antes, ateh porque eh dificil: a vida de cada uma continua, sem parar pra esperar, em faculdades, filho, outras cidades, outros estados, outro pais. Mas ainda nos falamos, e independente do que aconteca, aqueles bons tempos vao continuar aqui dentro.
E, bom. A gente conhece outros lugares, vive novas experiencias, conhece outras pessoas... e faz novos amigos, que acabam por se tornar especiais tambem. E ai voce vai vivendo cada fase da sua vida, com varios companheiros pra compartilhar aquilo com voce.
Qual o problema, entao?
O problema... eu nem sei. O problema eh o medo de perder alguem antes do tempo, acho eu.
Eu sei que vou perder as pessoas. Mais cedo ou mais tarde, ou a gente vai se afastar, ou um de nos vai morrer. Nao tem muito o que fazer sobre isso.
Mas existe uma diferenca entre perder contato com alguem e afastar alguem.
Que eh o questionamento inicial do post.
Eu quero "estar aqui" pros meus amigos e familiares, e dar o melhor de mim enquanto durar a nossa relacao.
Bonito, falar isso, neh?
Mas e agora fazer?
Ateh agora, algo que eu tento fazer muito eh escutar.
Pode parecer bobo, mas o ato de escutar alguem as vezes eh tao subestimado... quantas pessoas te escutam de verdade? Nao faz falta isso? Ter alguem que vai estar ali, te ouvindo e apoiando, nao importa quao grande a merda que voce disse? E contribuindo ao que voce estah falando, de forma a construir algo novo e compartilhado?
Nao estou dizendo que eu sei fazer isso. Ate porque, muitas vezes fico chateada comigo mesma, por nao achar que estou "escutando" as pessoas a minha volta.
Mas bom. Acho que isso eh bom pra comecar... (conclusao de post com sono -.- vou dormir)
Como eh que se estah lah para alguem?
Voce tem um amigo. Qual o melhor que voce pode fazer por ele? E por outro? E por mais um? E por um(a) namorado(a)? E pelos seus pais? E pelo(s) seu(s) irmao(s)?
E por todo mundo junto?
As vezes eu me sinto meio desfocada.
Eh tanta coisa pra fazer, tanta gente pra dar atencao... e ao mesmo tempo, acabo nao fazendo nada. Ou assim parece.
Sabe quando voce ve as fotos dos seus pais e pede pra eles te contarem a historia daqueles momentos? E eles viram e falam "poxa, ha quanto tempo eu nao falo com fulano!"... nao dah um certo medo?
Eu sei que nada nesse mundo eh perene (nossa, olha essa palavra! me lembra aula de geografia... sera que eu usei certo? enfim. "duravel", eh o que eu quis dizer)... sei que o tempo passa, voce muda, as pessoas mudam... nada e nem ninguem permanecem iguais. Sei que daqui a dois anos, nao vou falar com muita gente com quem falo hoje. Hoje jah nao falo com muita gente com quem falava ha dois anos atras.
Por alguns a perda eh mais doida, por outros nem se sente. Eu sei que vou perder muita gente e nao vou sentir, sei que muitos vao me perder e tambem nao vao sentir.
Mas eu gostaria muito de poder chegar a idade dos meus pais com alguns amigos de agora.
Gostaria muito de poder olhar pros meus pais nessa epoca e sorrir, sabendo que aproveitei cada momento.
Eu quero saber que fiz o melhor possivel... e, mesmo que aquela certa pessoa jah nao esteja mais na minha vida, quero poder olhar pra tras e saber que, enquanto estavamos juntos, tivemos uma relacao completa, inteira, profunda.
Quando eu me formei, fiz um video para as minhas melhores amigas do colegio... havia algumas fotos, uma musica da Disney e uma mensagem "nem o tempo nem a distancia podem destruir a amizade entre nos".
Um tempo depois, chateada, conversei com o meu pai "poxa, jah nao falo mais tanto com varias delas, esse video parece a maior besteira agora".
A resposta veio na hora "voce sabe que a amizade de voces continua no seu coracao... voce sabe que naquela epoca isso era verdadeiro, e que voce nao deixou de gostar delas. elas ainda estao com voce, ai dentro" (nao nessas palavras exatas, ateh porque eu nao lembro. mas algo assim)
Hoje entendo isso um pouco melhor. Das meninas do video, algumas ainda sao grandes amigas, outras meio que sumiram. Mas mantivemos contato. Com a ajuda do telefone, orkut, msn, fomos nos falando. Claro, nao tanto quanto antes, ateh porque eh dificil: a vida de cada uma continua, sem parar pra esperar, em faculdades, filho, outras cidades, outros estados, outro pais. Mas ainda nos falamos, e independente do que aconteca, aqueles bons tempos vao continuar aqui dentro.
E, bom. A gente conhece outros lugares, vive novas experiencias, conhece outras pessoas... e faz novos amigos, que acabam por se tornar especiais tambem. E ai voce vai vivendo cada fase da sua vida, com varios companheiros pra compartilhar aquilo com voce.
Qual o problema, entao?
O problema... eu nem sei. O problema eh o medo de perder alguem antes do tempo, acho eu.
Eu sei que vou perder as pessoas. Mais cedo ou mais tarde, ou a gente vai se afastar, ou um de nos vai morrer. Nao tem muito o que fazer sobre isso.
Mas existe uma diferenca entre perder contato com alguem e afastar alguem.
Que eh o questionamento inicial do post.
Eu quero "estar aqui" pros meus amigos e familiares, e dar o melhor de mim enquanto durar a nossa relacao.
Bonito, falar isso, neh?
Mas e agora fazer?
Ateh agora, algo que eu tento fazer muito eh escutar.
Pode parecer bobo, mas o ato de escutar alguem as vezes eh tao subestimado... quantas pessoas te escutam de verdade? Nao faz falta isso? Ter alguem que vai estar ali, te ouvindo e apoiando, nao importa quao grande a merda que voce disse? E contribuindo ao que voce estah falando, de forma a construir algo novo e compartilhado?
Nao estou dizendo que eu sei fazer isso. Ate porque, muitas vezes fico chateada comigo mesma, por nao achar que estou "escutando" as pessoas a minha volta.
Mas bom. Acho que isso eh bom pra comecar... (conclusao de post com sono -.- vou dormir)
terça-feira, 29 de junho de 2010
Conversas na mesa da cozinha
Mesas da cozinha nao ganham o valor que merecem. Afinal, quantas conversas, quantos episodios, quantas experiencias ela nao abriga?
Lah em Taiwan, a mesa da primeira familia era separada da cozinha por uma bancadinha, em que ficavam uma bandejinha com macas, laranjas e temperos, untensilios domesticos, um forninho eletrico. Era uma mesa quase quadrada, com quatro lugares, do lado de um movel com a maquina de fazer arroz branco, a garrafa de agua e as canecas da familia, e gavetas com remedios, tesouras, livretos...
O jantar em familia nao era todo dia. Cada um tinha seu horario, entao de dia de semana, quando a gente nao ia ao mesmo restaurante de sempre (em que eu comia estomago de vaca com o maior gosto, sem nem desconfiar do que estava pondo na boca), eu geralmente dividia uma "lunchbox" com o pai. A gente conversava sobre o dia, sobre chines, sobre a familia, sobre a reuniao de intercambio a que ele foi... ele gostava de conversar, sempre no seu jeitinho engracado de pai atrapalhado, com ingles estranho e chines muito rapido pra mim. Eu ria e contava do meu dia, enquanto disfarcava e colocava de lado as comidas que nao gostava.
As vezes quem voltava pra casa antes era a mae ou o Johnny, e ai o esquema era outro, era eu tentando a custo estabelecer uma conversa. "Como foi o seu dia?", e a resposta mais frequente era "nada de especial", com variacoes pra "ocupado" e "cheio". Essa pergunta nao eh bem uma tradicao taiwanesa, de qualquer jeito, mas eu ficava feliz quando conseguia alguma resposta mais variada. De vez em quando o Johnny me falava de alguma coisa do dia dele, ou soh falava que nada tinha acontecido, com um sorriso timido, sempre acabando a historia com "yeah", e eu conseguia dar umas risadas, e ate faze-lo rir tambem.
De fim de semana era mais facil uma refeicao em familia, geralmente com os mesmo pratos, e ai era um momento mais de escuta... pois a conversa era toda em chines! Eu me enterrava na minha tigelinha e ficava triste de nao poder participar, mas bom, eh a vida. Morria de vergonha quando o pai me perguntava algo em ingles e respondia toda sem jeito. A intencao dele era boa, mas eu me sentia envergonhada do mesmo jeito.
A mesa da segunda familia era dentro da cozinha mesmo, uma mesa comprida, jah que haviam tantos moradores. Uma geladeira grandona logo ao lado, a maquina de arroz branco perto da pia, um TV de plasma logo em frente. A mae geralmente sentava na cabeceira, mas nem sempre jantava com a gente, era ocupada. Quando jantava, assistia a Tv, e interrompia pra dar alguma bronquinha nas filhas, estrangeiras ou nao. Uma vez ficou com a gente, estudando pra prova de chines, depois do jantar. As vezes cozinhava, e muito bem, mas na maioria do tempo era a empregada, com uma comida deliciosa mas sem muita criatividade (a gente acabava comendo a mesma comida todo dia por uma semana e meia). Geralmente jantavamos eu, Corinna (a alema), o avo e a irmazinha, todos com os olhos fixos na tv. A conversa nao era muita, como foi o seu dia, jah viu esse filme, legal esse desenho. Dependia muito do humor da irmazinha, na verdade. A gente nao entendia porque que ela era tao mal humorada com a gente quase sempre, talvez ciume, talvez raiva porque estudava tanto e a gente nao... o fato eh que a gente nunca conversava entre a gente quando ela estava lah.
Conversas de manha nao existiam, a gente tinha que se concentrar em comer rapido pra nao chegar atrasada, o que quer dizer que eu sempre recebia uns olhares apressadores na minha direcao. A comida ou era da lojinha de cafe da manha ali do lado, deliciosa, ou algum resto do jantar. A gente vibrava quando era curry, nao tanto quando era peixe. Mas isso no comeco, quando a mae ainda ligava. Depois de um tempo, ela meio que mandou a gente se virar, e dali pra frente a gente ia na lojinha de cafe da manha todo dia.
O irmao mais velho vinha bastante, principalmente de fim de semana, sentado na mesa da cozinha assistindo a um filme. Conversas amenas, explicacoes. Guerrinha de casca de mexerica, ajuda quando eu precisei.
Eu e a Corinna conversavamos bastante por ali. Depois do jantar, revezando pra lavar a louca, num lanchinho da noite, numa tarde de domingo preguicoso, conversavamos sobre a vida, sobre o intercambio, sobre os intercambistas. A gente sentava e contava sobre o nosso dia, e o que mais estivessemos querendo, ou precisando, contar, e ai a nossa confianca e intimidade foi crescendo. E continuou quando, na transicao da segunda pra terceira familia, fomos juntas pra minha primeira familia, duas semanas dividindo a mesa quase quadrada, com uma cadeira colocada ali do lado, apertado, mas cabia.
A mesa da terceira familia era logo do lado de fora da cozinha, numa salinha de jantar aberta pra sala de estar, com uma lampada amarela no topo, e uma estantezinha atras. E uma bancadinha ali do lado, com a maquinha de agua quente, os copos e algumas tigelas, e uma geladeira logo ao lado, da qual a mae pegava os temperos e acompanhamentos. A maquina de arroz branco ficava dentro da cozinha.Um espacinho bem familia, bem aconchegante, bem de lampada amarela mesmo. Nao passei tanto tempo nessa mesa quanto nas outras. Era a ultima familia, meus ultimos dois meses ali, queria mais era sair e voltar mais tarde. Mas o pouco tempo passado rendeu bons momentos.
Fotos de familia e as respectivas historias. As fotos do casamento, "que fotografo ruim! toda foto da mae, ela tah olhando pra baixo!". Eles riram "nao, eh assim mesmo, naquela epoca, a noiva tinha mesmo que se fazer de timida". "Olha aqui, essa eh a irma mais velha quando era bebezinha. Ela tah nessa boia no rio Tal... e olha essa aqui, sou eu e a mae no mesmo barco, logo que a gente se conheceu. Esse rio foi muito importante na nossa vida... eu tinha a sua idade e gostava de ir lah nadar". Poxa, eu queria ter um rio importante na minha vida...
Frutas dividas, quase toda noite, mangas cortadinhas, laranja, e alguma frutas taiwanesas que eu adorava. Conversas amenas, como foi o seu dia? "Nada de especial" a mae sempre respondia. Perguntar "tudo bem?" todo dia nao eh mesmo uma tradicao taiwanesa. O pai jah elaborava um pouquinho, hoje tive reuniao, tal. A irma dizia que foi bom, e dava um sorriso... que eu soh consigo classificar como um sorriso "maduro". Eu jah contava meu dia com detalhes, contava as coisas engracadas como se contasse uma historia, comentava algo bobo que tivesse feito (sempre havia alguma coisa). Algumas perguntas, muitas sobre chines. Risadas quando, perguntando o nome da fruta, entendi algo como "fruta apaixonada".
Conversas nas vozes macias dos pais, na voz "sorriso maduro" da irma, na voz animada da intercambista, em chines, sempre em chines, com muuuitas paradas para explicar o significado desta ou desta palavra.
A mesa da minha casa, pra quem nao conhece, eh branca, assim como o resto da cozinha. Nao tem maquina de arroz branco, mas tem filtro, geladeira, armario dos lanchinhos. Eh uma cozinha gelada, ruim de pisar quando tah frio. Tem um puxa-saco em forma de cozinheiro, e a gente briga pelo nome dele. Meu pai e meu irmao insistem no absurdo nome "Pierre", enquanto eu e minha mae ficamos com o mais plausivel "Luigi". A mesa eh mesmo feita pra quatro pessoas, mas a gente aperta cinco, com convidados, ou com um filho intercambista, quando estava por aqui. A gente passa boa parte do tempo em casa por ali, todos juntos, sozinhos, com amigos, e eu nunca deixo amigo nenhum lavar a louca.
Boas conversas compartilhadas por ali, como foi o seu dia, como estao as notas, aonde voce vai amanha? Experiencias trocadas, brigadeiros divididos, pipocas estouradas. Conversas amenas e papos cabeca, sobre outras dimensoes, espaco-tempo, energia e polaridade, Deus e anjos, e o que mais aparecer.
As vezes aparecem briguinhas, mas, bom, eh a vida certo?
Mesa da cozinha eh algo fundamental na poesia de uma vida.
Lah em Taiwan, a mesa da primeira familia era separada da cozinha por uma bancadinha, em que ficavam uma bandejinha com macas, laranjas e temperos, untensilios domesticos, um forninho eletrico. Era uma mesa quase quadrada, com quatro lugares, do lado de um movel com a maquina de fazer arroz branco, a garrafa de agua e as canecas da familia, e gavetas com remedios, tesouras, livretos...
O jantar em familia nao era todo dia. Cada um tinha seu horario, entao de dia de semana, quando a gente nao ia ao mesmo restaurante de sempre (em que eu comia estomago de vaca com o maior gosto, sem nem desconfiar do que estava pondo na boca), eu geralmente dividia uma "lunchbox" com o pai. A gente conversava sobre o dia, sobre chines, sobre a familia, sobre a reuniao de intercambio a que ele foi... ele gostava de conversar, sempre no seu jeitinho engracado de pai atrapalhado, com ingles estranho e chines muito rapido pra mim. Eu ria e contava do meu dia, enquanto disfarcava e colocava de lado as comidas que nao gostava.
As vezes quem voltava pra casa antes era a mae ou o Johnny, e ai o esquema era outro, era eu tentando a custo estabelecer uma conversa. "Como foi o seu dia?", e a resposta mais frequente era "nada de especial", com variacoes pra "ocupado" e "cheio". Essa pergunta nao eh bem uma tradicao taiwanesa, de qualquer jeito, mas eu ficava feliz quando conseguia alguma resposta mais variada. De vez em quando o Johnny me falava de alguma coisa do dia dele, ou soh falava que nada tinha acontecido, com um sorriso timido, sempre acabando a historia com "yeah", e eu conseguia dar umas risadas, e ate faze-lo rir tambem.
De fim de semana era mais facil uma refeicao em familia, geralmente com os mesmo pratos, e ai era um momento mais de escuta... pois a conversa era toda em chines! Eu me enterrava na minha tigelinha e ficava triste de nao poder participar, mas bom, eh a vida. Morria de vergonha quando o pai me perguntava algo em ingles e respondia toda sem jeito. A intencao dele era boa, mas eu me sentia envergonhada do mesmo jeito.
A mesa da segunda familia era dentro da cozinha mesmo, uma mesa comprida, jah que haviam tantos moradores. Uma geladeira grandona logo ao lado, a maquina de arroz branco perto da pia, um TV de plasma logo em frente. A mae geralmente sentava na cabeceira, mas nem sempre jantava com a gente, era ocupada. Quando jantava, assistia a Tv, e interrompia pra dar alguma bronquinha nas filhas, estrangeiras ou nao. Uma vez ficou com a gente, estudando pra prova de chines, depois do jantar. As vezes cozinhava, e muito bem, mas na maioria do tempo era a empregada, com uma comida deliciosa mas sem muita criatividade (a gente acabava comendo a mesma comida todo dia por uma semana e meia). Geralmente jantavamos eu, Corinna (a alema), o avo e a irmazinha, todos com os olhos fixos na tv. A conversa nao era muita, como foi o seu dia, jah viu esse filme, legal esse desenho. Dependia muito do humor da irmazinha, na verdade. A gente nao entendia porque que ela era tao mal humorada com a gente quase sempre, talvez ciume, talvez raiva porque estudava tanto e a gente nao... o fato eh que a gente nunca conversava entre a gente quando ela estava lah.
Conversas de manha nao existiam, a gente tinha que se concentrar em comer rapido pra nao chegar atrasada, o que quer dizer que eu sempre recebia uns olhares apressadores na minha direcao. A comida ou era da lojinha de cafe da manha ali do lado, deliciosa, ou algum resto do jantar. A gente vibrava quando era curry, nao tanto quando era peixe. Mas isso no comeco, quando a mae ainda ligava. Depois de um tempo, ela meio que mandou a gente se virar, e dali pra frente a gente ia na lojinha de cafe da manha todo dia.
O irmao mais velho vinha bastante, principalmente de fim de semana, sentado na mesa da cozinha assistindo a um filme. Conversas amenas, explicacoes. Guerrinha de casca de mexerica, ajuda quando eu precisei.
Eu e a Corinna conversavamos bastante por ali. Depois do jantar, revezando pra lavar a louca, num lanchinho da noite, numa tarde de domingo preguicoso, conversavamos sobre a vida, sobre o intercambio, sobre os intercambistas. A gente sentava e contava sobre o nosso dia, e o que mais estivessemos querendo, ou precisando, contar, e ai a nossa confianca e intimidade foi crescendo. E continuou quando, na transicao da segunda pra terceira familia, fomos juntas pra minha primeira familia, duas semanas dividindo a mesa quase quadrada, com uma cadeira colocada ali do lado, apertado, mas cabia.
A mesa da terceira familia era logo do lado de fora da cozinha, numa salinha de jantar aberta pra sala de estar, com uma lampada amarela no topo, e uma estantezinha atras. E uma bancadinha ali do lado, com a maquinha de agua quente, os copos e algumas tigelas, e uma geladeira logo ao lado, da qual a mae pegava os temperos e acompanhamentos. A maquina de arroz branco ficava dentro da cozinha.Um espacinho bem familia, bem aconchegante, bem de lampada amarela mesmo. Nao passei tanto tempo nessa mesa quanto nas outras. Era a ultima familia, meus ultimos dois meses ali, queria mais era sair e voltar mais tarde. Mas o pouco tempo passado rendeu bons momentos.
Fotos de familia e as respectivas historias. As fotos do casamento, "que fotografo ruim! toda foto da mae, ela tah olhando pra baixo!". Eles riram "nao, eh assim mesmo, naquela epoca, a noiva tinha mesmo que se fazer de timida". "Olha aqui, essa eh a irma mais velha quando era bebezinha. Ela tah nessa boia no rio Tal... e olha essa aqui, sou eu e a mae no mesmo barco, logo que a gente se conheceu. Esse rio foi muito importante na nossa vida... eu tinha a sua idade e gostava de ir lah nadar". Poxa, eu queria ter um rio importante na minha vida...
Frutas dividas, quase toda noite, mangas cortadinhas, laranja, e alguma frutas taiwanesas que eu adorava. Conversas amenas, como foi o seu dia? "Nada de especial" a mae sempre respondia. Perguntar "tudo bem?" todo dia nao eh mesmo uma tradicao taiwanesa. O pai jah elaborava um pouquinho, hoje tive reuniao, tal. A irma dizia que foi bom, e dava um sorriso... que eu soh consigo classificar como um sorriso "maduro". Eu jah contava meu dia com detalhes, contava as coisas engracadas como se contasse uma historia, comentava algo bobo que tivesse feito (sempre havia alguma coisa). Algumas perguntas, muitas sobre chines. Risadas quando, perguntando o nome da fruta, entendi algo como "fruta apaixonada".
Conversas nas vozes macias dos pais, na voz "sorriso maduro" da irma, na voz animada da intercambista, em chines, sempre em chines, com muuuitas paradas para explicar o significado desta ou desta palavra.
A mesa da minha casa, pra quem nao conhece, eh branca, assim como o resto da cozinha. Nao tem maquina de arroz branco, mas tem filtro, geladeira, armario dos lanchinhos. Eh uma cozinha gelada, ruim de pisar quando tah frio. Tem um puxa-saco em forma de cozinheiro, e a gente briga pelo nome dele. Meu pai e meu irmao insistem no absurdo nome "Pierre", enquanto eu e minha mae ficamos com o mais plausivel "Luigi". A mesa eh mesmo feita pra quatro pessoas, mas a gente aperta cinco, com convidados, ou com um filho intercambista, quando estava por aqui. A gente passa boa parte do tempo em casa por ali, todos juntos, sozinhos, com amigos, e eu nunca deixo amigo nenhum lavar a louca.
Boas conversas compartilhadas por ali, como foi o seu dia, como estao as notas, aonde voce vai amanha? Experiencias trocadas, brigadeiros divididos, pipocas estouradas. Conversas amenas e papos cabeca, sobre outras dimensoes, espaco-tempo, energia e polaridade, Deus e anjos, e o que mais aparecer.
As vezes aparecem briguinhas, mas, bom, eh a vida certo?
Mesa da cozinha eh algo fundamental na poesia de uma vida.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
E ai tem aquele medo
De nao ser o bastante.
De que eu acabe decepcionando-os, e que eles levantem e vao embora.
Medo antigo, na verdade.
Sem nem direito de ser postado aqui, nada a ver com um blog de viagens.
O tal blog, na verdade, deveria ser terminado, jah que a viagem acabou... certo?
Hmm... nao. Ainda tem muita historia que nao foi contada, muitos aspectos daquele mundo distante que nao foram abordados.
Vou continuar com esse blog. Ate porque, a propria vida acaba sendo uma grande viagem... feita de passos, paradas... e medos.
Eu nao gosto de ser preguicosa. Ou distraida.
Na verdade, ateh que gosto sim... sou eu, afinal de contas.
Eu nao gosto de ter medo de ser quem eu sou. Nao gosto de ter medo de nao ser o bastante, ate porque isso nao faz o menor sentido. "Para com isso. Voce tem que se dar valor, ou ninguem mais vai dar. Voce tem que se amar, antes de tudo... senao, como vai querer que outros te amem? Se nem voce o faz?" Eh isso que eu falo quando alguem vem com esse problema. Eu disse isso pra ele. Muito sofrimento, ainda agora, mas um "thank you", varios, varios thank yous, proferidos ou lidos. Nao tenha medo de ser voce.
Como pode eu dizer pra outros uma coisa que nao faco?
Ate porque, se tive essa conversa, essas conversas, eh porque alguem gostou de mim. Voce eh o bastante. Soh precisa nao se esconder. E se alguem nao gostar, bem, ha quem goste. Voce gosta de voce mesmo.
Falei pra ele "thank YOU". Voce que me mostrou que eu nao preciso ter medo de ser eu mesma. Porque eu podia ser eu mesma com voce, e voce gostou de mim. Thank you, obrigada.
O que eu tenho medo eh de... nem sei. Acabar brigando, ficar sozinha? O velho medo humano, acho eu.
Eu sei que erro. Sei que de vez em quando dah uma preguica, e fica aquela coisa "ah, depois eu respondo, depois eu ligo". Depois, depois nao eh bom. Depois talvez nem chegue. Tenho medo que a pessoa se canse dos meus "depois" e nem se importe mais. Eu sei que erro.
Mas tambem sei que todo mundo erra. E se o meu amigo nao puder entender isso, serah que eh meu amigo mesmo? Se eu nao posso me perdoar... serah que sou amiga de mim mesma?
Eu nao quero mais ser assim.
Aprendi que tenho muito a mostrar, aprendi que posso contar comigo mesma. Olha ai, a tal viagem se faz presente.
O meu problema eh que me encontro, ainda agora, com medo de nao ser o bastante.
Conversas e reflexoes em Taiwan: we should try to do our best, not to be the best.
Okay, then.
De que eu acabe decepcionando-os, e que eles levantem e vao embora.
Medo antigo, na verdade.
Sem nem direito de ser postado aqui, nada a ver com um blog de viagens.
O tal blog, na verdade, deveria ser terminado, jah que a viagem acabou... certo?
Hmm... nao. Ainda tem muita historia que nao foi contada, muitos aspectos daquele mundo distante que nao foram abordados.
Vou continuar com esse blog. Ate porque, a propria vida acaba sendo uma grande viagem... feita de passos, paradas... e medos.
Eu nao gosto de ser preguicosa. Ou distraida.
Na verdade, ateh que gosto sim... sou eu, afinal de contas.
Eu nao gosto de ter medo de ser quem eu sou. Nao gosto de ter medo de nao ser o bastante, ate porque isso nao faz o menor sentido. "Para com isso. Voce tem que se dar valor, ou ninguem mais vai dar. Voce tem que se amar, antes de tudo... senao, como vai querer que outros te amem? Se nem voce o faz?" Eh isso que eu falo quando alguem vem com esse problema. Eu disse isso pra ele. Muito sofrimento, ainda agora, mas um "thank you", varios, varios thank yous, proferidos ou lidos. Nao tenha medo de ser voce.
Como pode eu dizer pra outros uma coisa que nao faco?
Ate porque, se tive essa conversa, essas conversas, eh porque alguem gostou de mim. Voce eh o bastante. Soh precisa nao se esconder. E se alguem nao gostar, bem, ha quem goste. Voce gosta de voce mesmo.
Falei pra ele "thank YOU". Voce que me mostrou que eu nao preciso ter medo de ser eu mesma. Porque eu podia ser eu mesma com voce, e voce gostou de mim. Thank you, obrigada.
O que eu tenho medo eh de... nem sei. Acabar brigando, ficar sozinha? O velho medo humano, acho eu.
Eu sei que erro. Sei que de vez em quando dah uma preguica, e fica aquela coisa "ah, depois eu respondo, depois eu ligo". Depois, depois nao eh bom. Depois talvez nem chegue. Tenho medo que a pessoa se canse dos meus "depois" e nem se importe mais. Eu sei que erro.
Mas tambem sei que todo mundo erra. E se o meu amigo nao puder entender isso, serah que eh meu amigo mesmo? Se eu nao posso me perdoar... serah que sou amiga de mim mesma?
Eu nao quero mais ser assim.
Aprendi que tenho muito a mostrar, aprendi que posso contar comigo mesma. Olha ai, a tal viagem se faz presente.
O meu problema eh que me encontro, ainda agora, com medo de nao ser o bastante.
Conversas e reflexoes em Taiwan: we should try to do our best, not to be the best.
Okay, then.
terça-feira, 6 de abril de 2010
Eu ainda estou aqui
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Um rio com luzes amarelas
E cheiro de peixe.
Andamos eu e a alema, ouvindo musicas que na hora pareciam tao altas, imponentes, cheias.
A gente tem mais um mes nessa casa.
No facebook, jah se fala em combinar de se voltar junto. A hora de marcar o voo de volta chegou.
De manha, o irmao mais velho me acordou. Ia comprar cafe da manha, quer um pouco?
Chutinhos embaixo da mesa, guerrinha de restos de mexerica. Mais um mes nessa casa.
Agora eh ferias, entao a gente sai quase todo dia. Sexta, churrasco com alguns colegas de classe. Sabado, cinema com host familia e uma amiga intercambista. Hoje, escrever apresentacao.
A gente sai todo dia com os nossos amigos.
Amigos. Amigos, amigos, amigos...
"Quantos patinhos estao na sua lagoa? E quantos restarao ateh ela secar?"
Sexta-feira eu cheguei bem tarde do churrasco, a mae ficou meio brava. Eu pedi desculpas, passou. Ontem a noite estava no carro com ela e as irmas. Me liga o host irmao: "onde voce estah? Eh melhor ir pra casa cedo hoje, que ela estava brava ontem."
Sei lah.
Nao eh um sentir-se bem, nao eh um sentir-se mal.
Eh soh sentir-se.
Em uma musica de piano.
E um post confuso.
Andamos eu e a alema, ouvindo musicas que na hora pareciam tao altas, imponentes, cheias.
A gente tem mais um mes nessa casa.
No facebook, jah se fala em combinar de se voltar junto. A hora de marcar o voo de volta chegou.
De manha, o irmao mais velho me acordou. Ia comprar cafe da manha, quer um pouco?
Chutinhos embaixo da mesa, guerrinha de restos de mexerica. Mais um mes nessa casa.
Agora eh ferias, entao a gente sai quase todo dia. Sexta, churrasco com alguns colegas de classe. Sabado, cinema com host familia e uma amiga intercambista. Hoje, escrever apresentacao.
A gente sai todo dia com os nossos amigos.
Amigos. Amigos, amigos, amigos...
"Quantos patinhos estao na sua lagoa? E quantos restarao ateh ela secar?"
Sexta-feira eu cheguei bem tarde do churrasco, a mae ficou meio brava. Eu pedi desculpas, passou. Ontem a noite estava no carro com ela e as irmas. Me liga o host irmao: "onde voce estah? Eh melhor ir pra casa cedo hoje, que ela estava brava ontem."
Sei lah.
Nao eh um sentir-se bem, nao eh um sentir-se mal.
Eh soh sentir-se.
Em uma musica de piano.
E um post confuso.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Da lingua
Chines eh uma lingua interessante.
Das etnias
"Chines" nao eh bem a lingua oficial da China ou de Taiwan. Dentro do "Chines" existem uma familia de linguas e dialetos. Isso porque na China existe toda uma variedade de etnias, cada uma com a sua lingua (legal, neh? :P). Pra nao virar bagunca, porem, resolveu-se que o dialeto mais falado, o da etnia Han, seria a lingua oficial: o Mandarim :)
Assim, na China e em Taiwan, o ensino do Mandarim eh obrigatorio, mas isso nao significa que as outras linguas perdem-se completamente. As etnias continuam aprendendo e vivendo as suas linguas.
Aqui em Taiwan, isso acontece com o Taiwanes (dialeto de Taiwan) e o Hakka, lingua da etnia (tchan tchaan!) Hakka.
Assim, no metro, o nome das estacoes e os avisos saos ditos quatro vezes: em mandarim, em hakka, em taiwanes e em ingles (Taipei eh bem internacional). Muitas vezes pessoas conversam em taiwanes (ou em Hakka), e algumas pessoas, principalmente mais velhos, preferem usar o taiwanes (como o meu professor de chines). Os mais jovens sabem, mas nem todos. Uma amiga da escola que fala ingles muito bem nao fala taiwanes nada bem. Outra fala Hakka: "minha mae eh Hakka" ela respondeu quando eu perguntei.
Como isso se desdobra na vida da intercambista?
Facil: quando eu entendo um pouquinho que seja, eh chines. Quando eu nao entendo NADA, eh taiwanes :) (nao me perguntem sobre Hakka xD)
Da pronuncia
No mandarim, ha quatro tons, mais o tom neutro (hey, considere-me sortuda: o taiwanes tem SETE tons). Quatro (cinco, vai) jeitos de se pronunciar um som, sendo que se mudar o tom, mudou a palavra. Pronunciando uma silaba de modo mais forte do que deveria, ou de modo mais lento, ou abaixando um pouco o tom de voz, voce pode mudar completamente o sentido do que voce estah dizendo. Por exemplo: para falar "me dah uma informacao", voce fala algo como "txin wen!", a ultima palavra sendo pronunciada bem "seca" e meio rapida, jah que eh o quarto tom . Porem, se voce se confundir e falar com o terceiro tom (algo como "txin ween"), o sentido vira "por favor me beije" :D
Pode parecer loucura que duas palavras tao "diferentes" tenham sons tao proximos, mas isso acontece porque a lingua chinesa eh conceitual: mesmo com sons tao proximos, os ideogramas sao muito diferentes: 問 (wen! = perguntar) e 吻 (ween = beijar).
Ou seja: pra eles tanto faz que as palavras soem parecidas (as vezes ateh com pronuncias iguais), jah que eles visualizam o sentido nos ideogramas. E, nas conversas, mesmo como palavras com a mesma pronuncia, eles compreendem pelo contexto.
Bem legal, neh? :)
Mas eh claro que pra alguem tentando aprender chines... Os tons geralmente sao a reclamacao maior dos intercambistas. Eh meio dificil identificar os tons numa conversa, e meio dificil colocar os tons em algumas palavras. Ou seja... as vezes nao eh tao divertido assim. :P
Ou ateh eh!
Pra identificar os tons: eh engracado como eles identificam a menor variacaozinha, e pra gente soa exatamente igual.
Nos meus primeiros meses aqui, pedindo ajuda dos meus colegas de classe:
"Hey, como eh que se fala 'dormir'?"
"Shuei Jiao"
"O_O Como assim? Outro dia voce me falou que eh 'dumpling'!"
"Nao, nao. Dumpling eh Shuei Jiao"
"E qual eh a diferenca? o_o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao"
"Hahaha ce tah me zoando xD"
"Nao, nao! Eh super diferente! Shuei Jiao! Shuei Jiao!"
"Eu nao ouco! Fala devagar! o_____o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao."
"Aahn T-T"
"Ouve, ouve. Shuei Jiao. Shueei Jiaao."
"AH! SAQUEI! \o/Me pergunta, me pergunta!!! :D"
"Shuei Jiao?"
"Dormir!"
"Isso! Shueei Jiaao?"
"DUMPLING!!"
"Isso aii! ^-^"
"Agora fala qualquer um rapido!! :D"
"Shueijiao"
"Dormir! Dormir! Dormir, certo? :D"
"Nao. Dumpling"
Essa cena se repetiu umas quatro ou cinco vezes.
Ateh hoje eu nao vejo diferenca quando eles falam rapido :D
Pra colocar os tons: varias vezes nos vamos falar alguma coisa, e diante da cara de interrogacao do nosso amigo, ficamos tentando variar os tons ateh achar o certo:
"hey! ni hao!"
"o_o"
"ahm... ni haAo?"
"o_O"
"Ni haao?"
"aah! :D"
"ufa ^____^"
Dos ideogramas
Os ideogramas, como o proprio nome jah diz, representam ideias. Ou seja, quando voce os le, voce le um conceito. Cada um deles tem um significado, mas eles nem sempre aparecem sozinhos: geralmente sao combinados com mais um ou dois, formando uma palavra.
Assim, combinando o ideograma de "procurar" com "alcancar", temos a palavra "encontrar". Combinando "lar" com "pessoa", temos "familia", e combinando "ter" com "nome", temos "famoso".
O que faz perfeito sentido... soh que as vezes a gente tem que usar um pouco a imaginacao.
Por exemplo, a palavra para "cuidado" eh "xiaoxin". "Xiao" quer dizer pequeno, e "xin" quer dizer "coracao".
Ou seja: pra dizer "tome cuidado", a gente fala "coracaozinho".
Outra coisa interessante eh a ordem dos ideogramas pra formar uma palavra.
Numa viagem em familia (primeira familia ainda) para uma cidade chamada Hualian.
"Hualian... Hua... esse "hua" nao quer dizer flor? Eh, eh isso ai, flor. E esse "lian"? Dicionario, o que quer dizer esse "lian"? "Lotus! Ah, puxa!"
- Hey! "Hua" quer dizer "flor", certo?
- Isso ai.
- E "lian" quer dizer "lotus"?
- Isso ai. Very smartu!
- Entao "Hualian" quer dizer "Flor de Lotus"? :)
- Nao... pra dizer "flor de lotus" voce tem que falar "Lianhua".
- Oh... entao o que eh "Hualian"?
- O nome da cidade. No meaning.
Entao tah.
Do aprendizado da pronuncia
Quando voce le por aqui, seja uma placa, um jornal ou a legenda de um filme, voce nao le letras que te ensinam ao mesmo tempo a pronuncia e o significado da palavra; voce le ideogramas, que te contam o que as palavras estao te dizendo, mas nao te dizem como elas fazem isso. Assim, se voce quiser ler um texto em voz alta, ou voce jah sabe a pronuncia ou se vira pra perguntar.
Agora... como eh que eles fazem pra te ensinar a pronuncia correta? Ou ainda, pra ensinar nas escolas?
Na China, eles usam o pinyin (metodo aprovado pelo governo chines pra ensinar estrangeiros, e, se o que eu ouvi falar estiver certo, pra ensinar nas escolas tambem), que eh a representacao da pronuncia com letras do alfabeto romano e acentos :)
Po, que facil pra mim, nao? :D
Infelizmente, isso eh na China :) E de acordo com a Wikipedia, em algumas partes de Taiwan, mas definitivamente nao na parte em que eu me encontro :P Aqui, se eu escrever em pinyin, todo mundo faz cara de interrogacao.
Como eh que funciona aqui, entao?
Bom, eles tem o proprio alfabeto fonetico, o bopomofo, em que cada simbolo representa um som. Combinando esses simbolos, forma-se o som da palavra. Assim, eh livros de alfabetizacao e pra criancas, muitas vezes temos o ideograma, e, do lado, a pronuncia em bopomofo.
Ou seja: alem de ter que aprender os ideogramas, a gente tem que aprender o alfabeto deles :)
Pode parecer dificil, mas, depois que voce entende, eh a coisa mais util do MUNDO. Quer olhar um ideograma no dicionario? Bopomofo. Mesmo se o dicionario for em pinyin, eh facil transferir de um pro outro. Nao sabe a pronuncia de um ideograma? Pede pra escrever bopomofo. Repetir o que eles falam nao ajuda muito, nao dah pra confiar muito na pronuncia de todo mundo. Sabe o porque?
Porque eles tem sotaque taiwanes :P
Das etnias
"Chines" nao eh bem a lingua oficial da China ou de Taiwan. Dentro do "Chines" existem uma familia de linguas e dialetos. Isso porque na China existe toda uma variedade de etnias, cada uma com a sua lingua (legal, neh? :P). Pra nao virar bagunca, porem, resolveu-se que o dialeto mais falado, o da etnia Han, seria a lingua oficial: o Mandarim :)
Assim, na China e em Taiwan, o ensino do Mandarim eh obrigatorio, mas isso nao significa que as outras linguas perdem-se completamente. As etnias continuam aprendendo e vivendo as suas linguas.
Aqui em Taiwan, isso acontece com o Taiwanes (dialeto de Taiwan) e o Hakka, lingua da etnia (tchan tchaan!) Hakka.
Assim, no metro, o nome das estacoes e os avisos saos ditos quatro vezes: em mandarim, em hakka, em taiwanes e em ingles (Taipei eh bem internacional). Muitas vezes pessoas conversam em taiwanes (ou em Hakka), e algumas pessoas, principalmente mais velhos, preferem usar o taiwanes (como o meu professor de chines). Os mais jovens sabem, mas nem todos. Uma amiga da escola que fala ingles muito bem nao fala taiwanes nada bem. Outra fala Hakka: "minha mae eh Hakka" ela respondeu quando eu perguntei.
Como isso se desdobra na vida da intercambista?
Facil: quando eu entendo um pouquinho que seja, eh chines. Quando eu nao entendo NADA, eh taiwanes :) (nao me perguntem sobre Hakka xD)
Da pronuncia
No mandarim, ha quatro tons, mais o tom neutro (hey, considere-me sortuda: o taiwanes tem SETE tons). Quatro (cinco, vai) jeitos de se pronunciar um som, sendo que se mudar o tom, mudou a palavra. Pronunciando uma silaba de modo mais forte do que deveria, ou de modo mais lento, ou abaixando um pouco o tom de voz, voce pode mudar completamente o sentido do que voce estah dizendo. Por exemplo: para falar "me dah uma informacao", voce fala algo como "txin wen!", a ultima palavra sendo pronunciada bem "seca" e meio rapida, jah que eh o quarto tom . Porem, se voce se confundir e falar com o terceiro tom (algo como "txin ween"), o sentido vira "por favor me beije" :D
Pode parecer loucura que duas palavras tao "diferentes" tenham sons tao proximos, mas isso acontece porque a lingua chinesa eh conceitual: mesmo com sons tao proximos, os ideogramas sao muito diferentes: 問 (wen! = perguntar) e 吻 (ween = beijar).
Ou seja: pra eles tanto faz que as palavras soem parecidas (as vezes ateh com pronuncias iguais), jah que eles visualizam o sentido nos ideogramas. E, nas conversas, mesmo como palavras com a mesma pronuncia, eles compreendem pelo contexto.
Bem legal, neh? :)
Mas eh claro que pra alguem tentando aprender chines... Os tons geralmente sao a reclamacao maior dos intercambistas. Eh meio dificil identificar os tons numa conversa, e meio dificil colocar os tons em algumas palavras. Ou seja... as vezes nao eh tao divertido assim. :P
Ou ateh eh!
Pra identificar os tons: eh engracado como eles identificam a menor variacaozinha, e pra gente soa exatamente igual.
Nos meus primeiros meses aqui, pedindo ajuda dos meus colegas de classe:
"Hey, como eh que se fala 'dormir'?"
"Shuei Jiao"
"O_O Como assim? Outro dia voce me falou que eh 'dumpling'!"
"Nao, nao. Dumpling eh Shuei Jiao"
"E qual eh a diferenca? o_o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao"
"Hahaha ce tah me zoando xD"
"Nao, nao! Eh super diferente! Shuei Jiao! Shuei Jiao!"
"Eu nao ouco! Fala devagar! o_____o"
"Shuei Jiao. Shuei Jiao."
"Aahn T-T"
"Ouve, ouve. Shuei Jiao. Shueei Jiaao."
"AH! SAQUEI! \o/Me pergunta, me pergunta!!! :D"
"Shuei Jiao?"
"Dormir!"
"Isso! Shueei Jiaao?"
"DUMPLING!!"
"Isso aii! ^-^"
"Agora fala qualquer um rapido!! :D"
"Shueijiao"
"Dormir! Dormir! Dormir, certo? :D"
"Nao. Dumpling"
Essa cena se repetiu umas quatro ou cinco vezes.
Ateh hoje eu nao vejo diferenca quando eles falam rapido :D
Pra colocar os tons: varias vezes nos vamos falar alguma coisa, e diante da cara de interrogacao do nosso amigo, ficamos tentando variar os tons ateh achar o certo:
"hey! ni hao!"
"o_o"
"ahm... ni haAo?"
"o_O"
"Ni haao?"
"aah! :D"
"ufa ^____^"
Dos ideogramas
Os ideogramas, como o proprio nome jah diz, representam ideias. Ou seja, quando voce os le, voce le um conceito. Cada um deles tem um significado, mas eles nem sempre aparecem sozinhos: geralmente sao combinados com mais um ou dois, formando uma palavra.
Assim, combinando o ideograma de "procurar" com "alcancar", temos a palavra "encontrar". Combinando "lar" com "pessoa", temos "familia", e combinando "ter" com "nome", temos "famoso".
O que faz perfeito sentido... soh que as vezes a gente tem que usar um pouco a imaginacao.
Por exemplo, a palavra para "cuidado" eh "xiaoxin". "Xiao" quer dizer pequeno, e "xin" quer dizer "coracao".
Ou seja: pra dizer "tome cuidado", a gente fala "coracaozinho".
Outra coisa interessante eh a ordem dos ideogramas pra formar uma palavra.
Numa viagem em familia (primeira familia ainda) para uma cidade chamada Hualian.
"Hualian... Hua... esse "hua" nao quer dizer flor? Eh, eh isso ai, flor. E esse "lian"? Dicionario, o que quer dizer esse "lian"? "Lotus! Ah, puxa!"
- Hey! "Hua" quer dizer "flor", certo?
- Isso ai.
- E "lian" quer dizer "lotus"?
- Isso ai. Very smartu!
- Entao "Hualian" quer dizer "Flor de Lotus"? :)
- Nao... pra dizer "flor de lotus" voce tem que falar "Lianhua".
- Oh... entao o que eh "Hualian"?
- O nome da cidade. No meaning.
Entao tah.
Do aprendizado da pronuncia
Quando voce le por aqui, seja uma placa, um jornal ou a legenda de um filme, voce nao le letras que te ensinam ao mesmo tempo a pronuncia e o significado da palavra; voce le ideogramas, que te contam o que as palavras estao te dizendo, mas nao te dizem como elas fazem isso. Assim, se voce quiser ler um texto em voz alta, ou voce jah sabe a pronuncia ou se vira pra perguntar.
Agora... como eh que eles fazem pra te ensinar a pronuncia correta? Ou ainda, pra ensinar nas escolas?
Na China, eles usam o pinyin (metodo aprovado pelo governo chines pra ensinar estrangeiros, e, se o que eu ouvi falar estiver certo, pra ensinar nas escolas tambem), que eh a representacao da pronuncia com letras do alfabeto romano e acentos :)
Po, que facil pra mim, nao? :D
Infelizmente, isso eh na China :) E de acordo com a Wikipedia, em algumas partes de Taiwan, mas definitivamente nao na parte em que eu me encontro :P Aqui, se eu escrever em pinyin, todo mundo faz cara de interrogacao.
Como eh que funciona aqui, entao?
Bom, eles tem o proprio alfabeto fonetico, o bopomofo, em que cada simbolo representa um som. Combinando esses simbolos, forma-se o som da palavra. Assim, eh livros de alfabetizacao e pra criancas, muitas vezes temos o ideograma, e, do lado, a pronuncia em bopomofo.
Ou seja: alem de ter que aprender os ideogramas, a gente tem que aprender o alfabeto deles :)
Pode parecer dificil, mas, depois que voce entende, eh a coisa mais util do MUNDO. Quer olhar um ideograma no dicionario? Bopomofo. Mesmo se o dicionario for em pinyin, eh facil transferir de um pro outro. Nao sabe a pronuncia de um ideograma? Pede pra escrever bopomofo. Repetir o que eles falam nao ajuda muito, nao dah pra confiar muito na pronuncia de todo mundo. Sabe o porque?
Porque eles tem sotaque taiwanes :P
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Let My Love Open The Door
Eh bom estar aqui :)
Eh estranho, claro. Mas eh bom. Eh diferente do que parece, e do que se espera, e do que se entende.
Agora eh ferias. E, como todas as ferias da minha vida, me dah uma angustia ficar em casa, aumentada pelo pouco tempo que eu tenho aqui. Jah tenho muito planejado pros proximos dias, nada pra hoje. Arranjamos um passeio improvisado pra mais tarde, o programa agora eh atualizar blog, mandar e-mails, escrever relatorios.
Jah eh cinco meses aqui.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "passa tao rapido!!".
A gente piscou e metade do nosso periodo aqui passou. Metade! E ainda parece que a gente nao sabe nada. Nao somente com a lingua, mas sobre tudo. Todo esse mundo que nos cerca. Parece que ainda ha tanto a fazer, tanto a conhecer, tantos lugares e pessoas a visitar. E ao mesmo tempo (como eu falei no outro post), parece tudo tao certo. Tao rotineiro (de um jeito bom). Nao que a gente goste de tudo. Uns gostam mais, outros menos. Uns reclamam muito, outros tentam aceitar. Mas de qualquer modo, tudo faz um certo sentido.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "eu nao sei como vai ser a minha vida depois disso".
Eu jah nao sabia antes, imagina agora.
Eu sei que vou voltar pro Brasil, me enfiar num cursinho e ficar por lah. Mas eh soh isso tambem.
Nao sei o que vai mudar. Nao sei como vai mudar.
Nao sei o quanto de mim jah mudou, nao sei o quanto de mim ainda vai mudar. Nao sei o quanto as outras coisas e pessoas vao mudar.
Agora eh ferias. O Rotary nos levou numa viagem semana passada, tres dias pelo centro da ilha.
Nessa viagem eu me percebi consciente do quanto eu mudei. Nao estou querendo dizer "ooh, eu mudei tanto, blablabla", nao eh isso. O que eu quero dizer eh que eu percebi.
Sabe como eh?
Todo dia a gente cresce um pouco. Uns dias mais, outros menos. Mas, no Brasil ou em Taiwan, no colegial ou na faculdade (ou no cursinho), trabalhando ou sem emprego, todo dia e toda experiencia fazem a gente crescer um pouquinho.
E a gente nao percebe, porque, como me contou a minha tia, o crescimento eh todo dia. Soh que, as vezes, voce para e se olha, e ve algo diferente do que voce achou que estaria ali.
As vezes voce sorri, as vezes voce chora. E as vezes voce aceita.
Nessa viagem, foi o que aconteceu comigo. Eu vi uma pessoa um pouquinho diferente por aqui. Talvez igualzinha pra quem olha, mudou o que, menina? Mas diferente em algumas coisinhas minusculas que pra mim fazem diferenca. Nao tao diferente assim, nada de uma super mudanca, e, claro, um monte de outras coisas ainda por resolver, mas... saca? Diferente o bastante pra me fazer perceber. E sorrir :)
Eh bom estar aqui. Por tantos motivos.
Acho que estar longe do que se conhece, sozinho, faz a gente por as coisas em perspectiva.
Dah pra gente parar e perceber. Enquanto a gente tah percebendo como o "novo mundo" funciona, a gente percebe um pouco como a gente funciona. A gente se encontra em outros olhos e em outras linguas. Quem diria por exemplo que uma menina do Canada, uma dos Eua e uma do Brasil teriam certas coisas tao iguais? Reacoes diferentes, claro. Mas a essencia desses "issues" eh a mesma. Entendi certas coisas minhas observando outros. Encontrei caracteristicas minhas em outras caras. O professor de tambor evita olhar nos meus olhos. Nao fala uma palavra de ingles, por isso morre de vergonha de falar comigo. Ele se preocupa, porem. Fala em chines pra alguem me falar isso e aquilo. De vez em quando vem falar comigo em chines, todo sorridente e tals. Uma vez veio me ensinar uma batida: "one, two, one, two". E toda vez ia embora logo que acabava, a timidez imperando.
Exatamente o que eu faco. Com ele, e outras pessoas com quem me sinto timida.
Aqui vou aprendendo o que eh amar.
Primeiro me colocaram numa familia que nao falava comigo a maior parte do tempo. Agora me colocaram numa casa com uma mae que fica muito em cima. Me deram uma colega de escola (e depois irma) com certos valores bem diferentes dos meus. Me deram colegas de classe com multiplas personalidades (nao decidem se falam comigo ou se me ignoram). Me deram amigos intercambistas, tao perdidos quanto eu. E me deram todos os meus amigos e toda a minha familia a onze fusos horarios de distancia.
Mandei scrap pra Penny, escrevi na carta pra familia, falei ontem pro mexicano: eh facil amar algo que eh exatamente o que voce espera, exatamente como voce quer. Agora, aprender a lidar com o que voce tem, aprender a viver com tanta coisa que te eh estranha, tanta coisa que voce queria diferente, aprender a enxergar a beleza nas pequenas coisas de tudo isso, aprender a deixar passar certas coisas, a driblar as coisas ruins... isso eh amar de verdade, certo?
Eh facil amar alguem que eh o que voce quer. Mas como eh que se ama algo que tem coisas que voce nao gosta?
Como se ama uma familia que conversa soh em chines na mesa de jantar, nao se preocupando em incluir a intercambista ali do lado?
Como eh se ama uma mae que vive cobrando as filhas, mais e mais e mais?
Como se ama uma amiga que, ao primeiro olhar, soh fala de beleza e roupas e caras bonitos? Ou outra que nao eh exatamente falante, ou outra que faz drama por (literalmente) tudo?
Como se ama uma colega de classe que soh fala com voce na aula de educacao fisica, outro que para de falar com voce do nada, e outro que te chama de "chata" num dia e te dah um super sorriso no outro?
Eu tive que vir pro outro lado do mundo pra comecar a aprender a fazer isso, e provavelmente vou passar o resto da vida aperfeicoando a tecnica.
Vou aprendendo o que eh amar nao soh com as pessoas daqui, mas tambem com as pessoas de lah.
Eh facil amar alguem aqui do lado. Abracar, abrir a boca eh soltar um "eu te amo". Ir na padaria e comprar um sorvete, dar uma risada. Como se faz tudo isso com alguem que nao estah aqui?
Eu recebi chocolates, um presepio e um pato de pelucia pelo correio. E um cartao assinado pela familia. Eu abro o orkut ou o yahoo todo dia, e tem sempre alguma coisa por lah. "Any hammerhead can see" e "passa seu endereco". Eu abri o orkut um dia depois do Natal e ganhei um video. Ganhei uma revista pelo correio. Eu abri o msn e conversei sobre ovelhas com uma webcam na minha testa.
Muito amor transmitido pelos ares que vem do outro lado do mundo. Muito amor encontrado por esses ares aqui.
Muita gratidao em um certo coracao, e o unico medo de nao saber transmiti-la.
(eu estou consciente de que estou devendo duas ou tres respostas taiwanesas, e muito mais coisas pra falar sobre esse lugar - aguardem soh um pouquinho :P)
Eh estranho, claro. Mas eh bom. Eh diferente do que parece, e do que se espera, e do que se entende.
Agora eh ferias. E, como todas as ferias da minha vida, me dah uma angustia ficar em casa, aumentada pelo pouco tempo que eu tenho aqui. Jah tenho muito planejado pros proximos dias, nada pra hoje. Arranjamos um passeio improvisado pra mais tarde, o programa agora eh atualizar blog, mandar e-mails, escrever relatorios.
Jah eh cinco meses aqui.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "passa tao rapido!!".
A gente piscou e metade do nosso periodo aqui passou. Metade! E ainda parece que a gente nao sabe nada. Nao somente com a lingua, mas sobre tudo. Todo esse mundo que nos cerca. Parece que ainda ha tanto a fazer, tanto a conhecer, tantos lugares e pessoas a visitar. E ao mesmo tempo (como eu falei no outro post), parece tudo tao certo. Tao rotineiro (de um jeito bom). Nao que a gente goste de tudo. Uns gostam mais, outros menos. Uns reclamam muito, outros tentam aceitar. Mas de qualquer modo, tudo faz um certo sentido.
Entre todos os intercambistas, o comentario eh o mesmo: "eu nao sei como vai ser a minha vida depois disso".
Eu jah nao sabia antes, imagina agora.
Eu sei que vou voltar pro Brasil, me enfiar num cursinho e ficar por lah. Mas eh soh isso tambem.
Nao sei o que vai mudar. Nao sei como vai mudar.
Nao sei o quanto de mim jah mudou, nao sei o quanto de mim ainda vai mudar. Nao sei o quanto as outras coisas e pessoas vao mudar.
Agora eh ferias. O Rotary nos levou numa viagem semana passada, tres dias pelo centro da ilha.
Nessa viagem eu me percebi consciente do quanto eu mudei. Nao estou querendo dizer "ooh, eu mudei tanto, blablabla", nao eh isso. O que eu quero dizer eh que eu percebi.
Sabe como eh?
Todo dia a gente cresce um pouco. Uns dias mais, outros menos. Mas, no Brasil ou em Taiwan, no colegial ou na faculdade (ou no cursinho), trabalhando ou sem emprego, todo dia e toda experiencia fazem a gente crescer um pouquinho.
E a gente nao percebe, porque, como me contou a minha tia, o crescimento eh todo dia. Soh que, as vezes, voce para e se olha, e ve algo diferente do que voce achou que estaria ali.
As vezes voce sorri, as vezes voce chora. E as vezes voce aceita.
Nessa viagem, foi o que aconteceu comigo. Eu vi uma pessoa um pouquinho diferente por aqui. Talvez igualzinha pra quem olha, mudou o que, menina? Mas diferente em algumas coisinhas minusculas que pra mim fazem diferenca. Nao tao diferente assim, nada de uma super mudanca, e, claro, um monte de outras coisas ainda por resolver, mas... saca? Diferente o bastante pra me fazer perceber. E sorrir :)
Eh bom estar aqui. Por tantos motivos.
Acho que estar longe do que se conhece, sozinho, faz a gente por as coisas em perspectiva.
Dah pra gente parar e perceber. Enquanto a gente tah percebendo como o "novo mundo" funciona, a gente percebe um pouco como a gente funciona. A gente se encontra em outros olhos e em outras linguas. Quem diria por exemplo que uma menina do Canada, uma dos Eua e uma do Brasil teriam certas coisas tao iguais? Reacoes diferentes, claro. Mas a essencia desses "issues" eh a mesma. Entendi certas coisas minhas observando outros. Encontrei caracteristicas minhas em outras caras. O professor de tambor evita olhar nos meus olhos. Nao fala uma palavra de ingles, por isso morre de vergonha de falar comigo. Ele se preocupa, porem. Fala em chines pra alguem me falar isso e aquilo. De vez em quando vem falar comigo em chines, todo sorridente e tals. Uma vez veio me ensinar uma batida: "one, two, one, two". E toda vez ia embora logo que acabava, a timidez imperando.
Exatamente o que eu faco. Com ele, e outras pessoas com quem me sinto timida.
Aqui vou aprendendo o que eh amar.
Primeiro me colocaram numa familia que nao falava comigo a maior parte do tempo. Agora me colocaram numa casa com uma mae que fica muito em cima. Me deram uma colega de escola (e depois irma) com certos valores bem diferentes dos meus. Me deram colegas de classe com multiplas personalidades (nao decidem se falam comigo ou se me ignoram). Me deram amigos intercambistas, tao perdidos quanto eu. E me deram todos os meus amigos e toda a minha familia a onze fusos horarios de distancia.
Mandei scrap pra Penny, escrevi na carta pra familia, falei ontem pro mexicano: eh facil amar algo que eh exatamente o que voce espera, exatamente como voce quer. Agora, aprender a lidar com o que voce tem, aprender a viver com tanta coisa que te eh estranha, tanta coisa que voce queria diferente, aprender a enxergar a beleza nas pequenas coisas de tudo isso, aprender a deixar passar certas coisas, a driblar as coisas ruins... isso eh amar de verdade, certo?
Eh facil amar alguem que eh o que voce quer. Mas como eh que se ama algo que tem coisas que voce nao gosta?
Como se ama uma familia que conversa soh em chines na mesa de jantar, nao se preocupando em incluir a intercambista ali do lado?
Como eh se ama uma mae que vive cobrando as filhas, mais e mais e mais?
Como se ama uma amiga que, ao primeiro olhar, soh fala de beleza e roupas e caras bonitos? Ou outra que nao eh exatamente falante, ou outra que faz drama por (literalmente) tudo?
Como se ama uma colega de classe que soh fala com voce na aula de educacao fisica, outro que para de falar com voce do nada, e outro que te chama de "chata" num dia e te dah um super sorriso no outro?
Eu tive que vir pro outro lado do mundo pra comecar a aprender a fazer isso, e provavelmente vou passar o resto da vida aperfeicoando a tecnica.
Vou aprendendo o que eh amar nao soh com as pessoas daqui, mas tambem com as pessoas de lah.
Eh facil amar alguem aqui do lado. Abracar, abrir a boca eh soltar um "eu te amo". Ir na padaria e comprar um sorvete, dar uma risada. Como se faz tudo isso com alguem que nao estah aqui?
Eu recebi chocolates, um presepio e um pato de pelucia pelo correio. E um cartao assinado pela familia. Eu abro o orkut ou o yahoo todo dia, e tem sempre alguma coisa por lah. "Any hammerhead can see" e "passa seu endereco". Eu abri o orkut um dia depois do Natal e ganhei um video. Ganhei uma revista pelo correio. Eu abri o msn e conversei sobre ovelhas com uma webcam na minha testa.
Muito amor transmitido pelos ares que vem do outro lado do mundo. Muito amor encontrado por esses ares aqui.
Muita gratidao em um certo coracao, e o unico medo de nao saber transmiti-la.
(eu estou consciente de que estou devendo duas ou tres respostas taiwanesas, e muito mais coisas pra falar sobre esse lugar - aguardem soh um pouquinho :P)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Eu fico triste
Por certas pessoas.
Nao sei como explicar.
Mas sei lah, parece que tem gente que reclama demais.
Eu sei que eu nao posso exigir que todo mundo goste de tudo, e que eu tenho que respeitar os desgostos de outra pessoa. Eu sei que julgar o que outros gostam ou desgostam eh completamente idiota. E parcial, porque isso depende do que eu gosto ou do que eu desgosto.
Mas AINDA assim, na minha opiniao tem gente que reclama demais.
Eu quero desenvolver melhor esse post, mas soh pra dar uma ideia: eu estava lendo o blog de uma menina from us que veio pra Taiwan ha dois anos (lendo os textos do periodo em que ela estava aqui), e ela estava lah, falando do que ela nao gostava em Taiwan.
E bom, um dos motivos era "eles adoram dinheiro".
Ah sim, porque no seu pais isso nao acontece, neh flor?
Nao sei, mas as vezes eu acho que a ingenua nao sou eu :/
Nao sei como explicar.
Mas sei lah, parece que tem gente que reclama demais.
Eu sei que eu nao posso exigir que todo mundo goste de tudo, e que eu tenho que respeitar os desgostos de outra pessoa. Eu sei que julgar o que outros gostam ou desgostam eh completamente idiota. E parcial, porque isso depende do que eu gosto ou do que eu desgosto.
Mas AINDA assim, na minha opiniao tem gente que reclama demais.
Eu quero desenvolver melhor esse post, mas soh pra dar uma ideia: eu estava lendo o blog de uma menina from us que veio pra Taiwan ha dois anos (lendo os textos do periodo em que ela estava aqui), e ela estava lah, falando do que ela nao gostava em Taiwan.
E bom, um dos motivos era "eles adoram dinheiro".
Ah sim, porque no seu pais isso nao acontece, neh flor?
Nao sei, mas as vezes eu acho que a ingenua nao sou eu :/
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Keep my pace
Quando eu soube do intercambio, primeiro eu queria ir pro Japao.
"Super phoda" pensei. Cultura japonesa, taiko, anime, mangah, sushi... Coisas que jah gosto e admiro ha tanto tempo! Passar um ano com tudo isso vai ser demais.
Eba, pensei. Vou pro Japao :)
Porem. O intercambio do Rotary eh pra jovens de 15 a 18 anos nao completos. Ou seja: se voce jah tem 18 anos, estah fora. A regra eh que voce tem que fazer seus 18 anos por lah.
Claro que nao eh algo tao estrito assim: ha paises que abrem excecoes (ou eu nao estaria aqui, certo? :P). Soh que, infelizmente pra mim, Japao nao eh um deles. "A gente pode ateh tentar" disse o representante do intercambio na Asia "mas vai ser dificil e as chances sao poucas. Mas tem outros paises que abrem excecao! Por que voce nao pensa em ir pra Taiwan?". Hmm... porque eu nao sei nada sobre Taiwan?
Me apresentaram dois taiwaneses. Conversamos, em ingles e um pouco de portugues. Comecei a procurar. Aos pouquinhos. Uma wikipedia de vez em quando, uma procurada no livro de geografia. Muitas e muitas fotos no Deviantart. Eu me recostava na cadeira e sonhava.
Me inscrevi. Fiz uns 600 exames, pedi assinatura na escola. Preenchi uns 5 formularios, mas quatro copias de cada, e fotos 3x4 da minha cara e 5x5 do que eu gosto de fazer. Passei por quatro provas e uma entrevista, mais a entrevista e prova com os pais.
No dia de escolher, chegou a minha vez. Sem microfone, em alto e bom som: "Taiwan". Nao que eu soubesse tanto mais sobre a ilha do que sabia antes. Mas jah sabia o suficiente... ou pelo menos eu esperava ;P
10 meses de espera (ou perto disso). A cada "made in Taiwan" o coracao pulava um pouquinho (nao sei como nao tive um ataque cardiaco xD). Mais e mais fotos na internet. Li umas 70 vezes no blog de uma intercambista em Taiwan todos os textos do periodo do intercambio dela. Entrei num curso de chines. Da China, mas jah era alguma coisa. E na minha cabeca eu jah ia construindo essa imagem de um pais sobre o qual eu nao sabia quase nada. Jah construia uma imagem sobre essa viagem absurda e maluca sobre a qual eu nao sabia quase nada (e nem podia ser diferente).
Ligaram em casa, seu formulario chegou. Voce oficialmente estah aceita no programa, pode comecar a se preparar. Fui no lugar pegar o tal formulario, nao consegui esperar ateh em casa pra abrir. Li os nomes da primeira familia, vibrei que ia ter um irmao. Vi o formulario da escola, com um carimbo vermelho enorme. Cheio de ideogramas que eu nao entendia (e a maioria eu provavelmente ainda nao entendo :P). Meu pai, tah chegando.
Me preparei. Fiz mais 600 exames, registrei em cartorio (eta complicacao), comprei presentes, dei um (ou mais que um) abraco em cada um. Dei um ultimo tchau e entrei na fila de embarque. 24 horas no ceu, e mais umas boas 11 horas em terra. E da janela do aviao, terra a vista! Nao eh que eu estou vindo morar em uma colcha de retalhos?
E ai, bom. Nesse momento eu estou sentada na "lan house" da universidade em que eu faco aula de chines, usando o uniforme verde e roxo de um colegio cujo nome eh escrito em ideogramas, matando o tempo antes de comer meu macarrao na lojinha boa e barata de sempre e ir pro esporte. Tudo isso pra depois pegar o metro e voltar pra casa, onde a gente come macarrao de cafe da manha, eu durmo em um colchao no "chao" (mais ou menos) e tenho uma irma de olhos azuis a dez passos de distancia. E onde soh me chamam de Xiao Qiao (bom, tirando a irma alema).
E eu JURO que ainda nao entendi como tudo isso virou rotina.
Nao estou reclamando, nao mesmo. A rotina nao eh ruim, nas devidas proporcoes, e aqui acontecem coisas aleatorias o bastante pra quebrar a rotina mais do que o suficiente. Soh estou pasma de estar aqui do outro lado do fucking mundo e estar achando tudo isso normal.
Normal o macarrao de cafe da manha.
Normal soh entender metade do que me falam.
Normal olhar em olhos puxados o tempo todo.
Normal os ideogramas em diferentes fontes.
Eu mesma, normal, com qualidades e defeitos que sempre tive, alegrias e tristezas de sempre, soh que em outras linguas(embora eu fique meio bleh com alguns defeitos nao terem mudado ainda).
E, acima de tudo, o ser humano, normalissimo, com todas as suas necessidades e particularidades, iguais, soh que em outras linguas e outras caras. Outras reacoes. Outras culturas. Mas "deep inside" igual.
Me alegra descobrir tudo isso, atravez dos meus olhinhos nao puxados. Me alegra viver tudo isso, mesmo que as vezes me de uma urgencia de viver mais, descobrir mais, sair por ai cantando mais.
E por mais que a saudade ocupe seu papel, me angustia saber que isso acaba, e rapido. Num piscar de olhos, jah se foram 4 meses, afinal de contas.
Uma ilha, completamente diferente do que eu esperava, em diversos aspectos. Uma viagem, extremamente diferente do que eu sonhava, em quase todos os aspectos. Uma sensacao diferente da que eu tinha ao ler "made in Taiwan".
Mas nao sei. Estou aqui, vivendo isso. Vivendo aqui! E isso eh estranho, e irreal, e delicioso e agora rotineiro. E frustrante, quando voce percebe que nao cresceu ou nao aprendeu tanto quanto voce esperava, e uma delicia, quando voce se percebe fazendo ou falando algo que jamais esperaria.
E por mais de vez em quando "all fails". Vou continuar, toda feliz, a "keep my pace".
(ficou uma frase horrivel, eu sei. mas eu nem ligo, tem um porque desses ingleses estarem ai)
"Super phoda" pensei. Cultura japonesa, taiko, anime, mangah, sushi... Coisas que jah gosto e admiro ha tanto tempo! Passar um ano com tudo isso vai ser demais.
Eba, pensei. Vou pro Japao :)
Porem. O intercambio do Rotary eh pra jovens de 15 a 18 anos nao completos. Ou seja: se voce jah tem 18 anos, estah fora. A regra eh que voce tem que fazer seus 18 anos por lah.
Claro que nao eh algo tao estrito assim: ha paises que abrem excecoes (ou eu nao estaria aqui, certo? :P). Soh que, infelizmente pra mim, Japao nao eh um deles. "A gente pode ateh tentar" disse o representante do intercambio na Asia "mas vai ser dificil e as chances sao poucas. Mas tem outros paises que abrem excecao! Por que voce nao pensa em ir pra Taiwan?". Hmm... porque eu nao sei nada sobre Taiwan?
Me apresentaram dois taiwaneses. Conversamos, em ingles e um pouco de portugues. Comecei a procurar. Aos pouquinhos. Uma wikipedia de vez em quando, uma procurada no livro de geografia. Muitas e muitas fotos no Deviantart. Eu me recostava na cadeira e sonhava.
Me inscrevi. Fiz uns 600 exames, pedi assinatura na escola. Preenchi uns 5 formularios, mas quatro copias de cada, e fotos 3x4 da minha cara e 5x5 do que eu gosto de fazer. Passei por quatro provas e uma entrevista, mais a entrevista e prova com os pais.
No dia de escolher, chegou a minha vez. Sem microfone, em alto e bom som: "Taiwan". Nao que eu soubesse tanto mais sobre a ilha do que sabia antes. Mas jah sabia o suficiente... ou pelo menos eu esperava ;P
10 meses de espera (ou perto disso). A cada "made in Taiwan" o coracao pulava um pouquinho (nao sei como nao tive um ataque cardiaco xD). Mais e mais fotos na internet. Li umas 70 vezes no blog de uma intercambista em Taiwan todos os textos do periodo do intercambio dela. Entrei num curso de chines. Da China, mas jah era alguma coisa. E na minha cabeca eu jah ia construindo essa imagem de um pais sobre o qual eu nao sabia quase nada. Jah construia uma imagem sobre essa viagem absurda e maluca sobre a qual eu nao sabia quase nada (e nem podia ser diferente).
Ligaram em casa, seu formulario chegou. Voce oficialmente estah aceita no programa, pode comecar a se preparar. Fui no lugar pegar o tal formulario, nao consegui esperar ateh em casa pra abrir. Li os nomes da primeira familia, vibrei que ia ter um irmao. Vi o formulario da escola, com um carimbo vermelho enorme. Cheio de ideogramas que eu nao entendia (e a maioria eu provavelmente ainda nao entendo :P). Meu pai, tah chegando.
Me preparei. Fiz mais 600 exames, registrei em cartorio (eta complicacao), comprei presentes, dei um (ou mais que um) abraco em cada um. Dei um ultimo tchau e entrei na fila de embarque. 24 horas no ceu, e mais umas boas 11 horas em terra. E da janela do aviao, terra a vista! Nao eh que eu estou vindo morar em uma colcha de retalhos?
E ai, bom. Nesse momento eu estou sentada na "lan house" da universidade em que eu faco aula de chines, usando o uniforme verde e roxo de um colegio cujo nome eh escrito em ideogramas, matando o tempo antes de comer meu macarrao na lojinha boa e barata de sempre e ir pro esporte. Tudo isso pra depois pegar o metro e voltar pra casa, onde a gente come macarrao de cafe da manha, eu durmo em um colchao no "chao" (mais ou menos) e tenho uma irma de olhos azuis a dez passos de distancia. E onde soh me chamam de Xiao Qiao (bom, tirando a irma alema).
E eu JURO que ainda nao entendi como tudo isso virou rotina.
Nao estou reclamando, nao mesmo. A rotina nao eh ruim, nas devidas proporcoes, e aqui acontecem coisas aleatorias o bastante pra quebrar a rotina mais do que o suficiente. Soh estou pasma de estar aqui do outro lado do fucking mundo e estar achando tudo isso normal.
Normal o macarrao de cafe da manha.
Normal soh entender metade do que me falam.
Normal olhar em olhos puxados o tempo todo.
Normal os ideogramas em diferentes fontes.
Eu mesma, normal, com qualidades e defeitos que sempre tive, alegrias e tristezas de sempre, soh que em outras linguas(embora eu fique meio bleh com alguns defeitos nao terem mudado ainda).
E, acima de tudo, o ser humano, normalissimo, com todas as suas necessidades e particularidades, iguais, soh que em outras linguas e outras caras. Outras reacoes. Outras culturas. Mas "deep inside" igual.
Me alegra descobrir tudo isso, atravez dos meus olhinhos nao puxados. Me alegra viver tudo isso, mesmo que as vezes me de uma urgencia de viver mais, descobrir mais, sair por ai cantando mais.
E por mais que a saudade ocupe seu papel, me angustia saber que isso acaba, e rapido. Num piscar de olhos, jah se foram 4 meses, afinal de contas.
Uma ilha, completamente diferente do que eu esperava, em diversos aspectos. Uma viagem, extremamente diferente do que eu sonhava, em quase todos os aspectos. Uma sensacao diferente da que eu tinha ao ler "made in Taiwan".
Mas nao sei. Estou aqui, vivendo isso. Vivendo aqui! E isso eh estranho, e irreal, e delicioso e agora rotineiro. E frustrante, quando voce percebe que nao cresceu ou nao aprendeu tanto quanto voce esperava, e uma delicia, quando voce se percebe fazendo ou falando algo que jamais esperaria.
E por mais de vez em quando "all fails". Vou continuar, toda feliz, a "keep my pace".
(ficou uma frase horrivel, eu sei. mas eu nem ligo, tem um porque desses ingleses estarem ai)
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