Pois eh. Aqui, alem de estar em 2009, eles tambem estao no ano de 98, ou seja, 98 anos depois de declarada a republica.
E sabe o que mais? Alem de contar os meses do modo ocidental (calendario solar), eles tambem contam o calendario lunar, o "ano chines". Ou seja, terca feira passada, um monte de lojas colocou altares na porta em oferenda aos fantasmas, jah que era o segundo dia do mes. Eles fazem essas oferendas todo segundo e decimo-sexto dia do mes.
Aqui, a populacao eh em sua maioria budista ou taoista.
Assim, em todo lugar tem templos, e na maioria das casas (pelo menos as que eu fui) e em muitas lojas, ha um altar, com uma imagem e as lampadas vermelhas (muita coisa vermelha por aqui). Nos templos, os nos dias de oferenda, aquele cheiro de incenso bem caracteristico.
O mesmo cheiro que meus host pais (taoistas)tem todo dia, quando voltam do templo deles. Toda noite (ou quase) eles vao pro templo deles (loooonge) pra ter "aulas": aprendem a falar com os deuses, se eu entendi direito. Eu fui assistir uma dessas aulas. Interessantissimo, mas meio impressionante pra mim, que nunca tinha visto nada parecido. As pessoas sentam, fecham os olhos, e comecam a se mexer de um jeitos estranhos, saca?
Nao estranho de "aah que coisa esquisita". Mas tipo... nao eh como voce se mexeria normalmente. Comunicando-se com os deuses, eles mexiam os bracos em movimentos meio circulares. Tinha um cara tremendo um monte, e uma mulher de olhos abertos, dancando. "The god told her to dance" disse meu host pai. Poxa.
No meio disso, eles faziam uns barulhos com a boca, meio que uns arrotos ou algo assim.
E ai, comecaram as cerimonias de cura. O doente senta, e as pessoas encarregadas de cura-lo, em contato com os deuses (ou um deus soh, nao sei bem) ficam em volta dele, fazendo gestos com seus bastoes ou com incenso. Encostam os bastao no doente, escrevem nele com tinta vermelha. E sempre os barulhos de arroto.
A tinta vermelha, alias, eh algo muito recorrente. Varias vezes meu host pai escreve um monte de coisas num papel amarelo (pelo que eu entendi, eh pros deuses), e, pra finalizar, cada um da familia coloca uma digital vermelha embaixo do proprio nome. Pra quem nao estah lah, como o filho deles que estah no Mexico, eles carimbam o nome (cada um tem um carimbinho).
Quando meu host pai precisou purificar o carro, porque ele tinha sem querer atropelado um gato (se fosse um cachorro nao tinha problema), ele (o carro) voltou cheio de tinta vermelha.
Outro dia foi aniversario de um dos deuses, entao nos e a turma do templo deles lotamos tres onibus e fomos pra Tainan, no sul da ilha (Nan significa literalmente "sul"), celebrar num templo importante que tem por lah (as fotos estao no orkut ;P). O templo, enorme, lindo. Chegamos lah pelas 5h e pouco da manha, um vento frio. E muito barulho: tinha uma mulher num caminhao, cantando musicas de karaoke pros deuses, uma musica que vinha do onibus, uma banda tocando a musica pros deuses (essa banda era composta de percurssao e umas cornetas - sabe aquele tipo de corneta que pro ocidental parece desafinada mas que a gente sabe que nao esta desafinada?).
Soltaram fogos e a gente passou pelo portico e entrou no templo, meio que em procissao, a imagem do deus aniversariante na frente. E os rojoes e a musica continuavam (baruulho xD).
Lah dentro, o templo cheio de detalhes, colunas trabalhas, pinturas. As oferendas (em sua maioria frutas) nas mesas e os deuses em seus altares (era aniversario de um, mas eles levaram todas as imagens dos deuses. Meu host pai me explicou: "quando voce faz aniversario, voce chama bastante gente pra comemorar, neh?".
Algumas pessoas iam dancar em homenagem ao deus (pelo que eu entendi, quando voce danca ou participa de alguma cerimonia, o deus esta em voce - nao quero falar a palavra "possuido" porque tem uma conotacao negativa, mas eh bem isso, saca?), minha host mae uma delas. Antes da danca, um homem com incenso (tambem "possuido") purificava as pessoas e elas iam lah pra frente dancar. Depois, um grupo uniformizado dancou uma danca "coreografada", e atiraram moedas embrulhadinhas que nem bala ao final. "Presente do deus" disse meu host pai. Pra atrair dinheiro, parece.
Depois, todos eles foram rezar juntos, e logo depois separados, pra cada deus, cada um em seu altar.
Nessa hora eu pude andar por ai e tirar fotos (ateh que a bendita bateria acabou -.-), e assistir a toda aquele espetaculo, e descobrir que o templo era ainda maior do que parecia, e tinha um grande jardim, e minimos detalhes nas paredes e telhados.
Depois do cafe da manha, mais reza. Eles queimaram uns papeis num grande forno, e fizeram o mesmo com as suas lotus de papel. As lotus de papel sao assim: eh uma pra cada familia, e servem de presente pro deus. Eles ficam numa fila pra ter uma pincelada de tinta vermelha na flor (pro deus receber o presente) e uma em cada palma da mao (pra atrair dinheiro - presente do deus. Meu host pais fez a mimica de colocar dinheiro no bolso depois da pincelada). E ai eles queimam a lotus de papel, pro deus recebe-la.
Depois, tres filas para cura: mesmos barulhos e tinta vermelha, so que voce nao senta. Tinha uma fila que nao tinha tinta vermelha nenhuma, soh as pessoas encostando o bastao em voce (de acordo com o meu host pai as vezes voce tah doente porque tem um fantasma em voce, dai essas pessoas tiram ele de lah). Eu quase fui, soh que na hora em que eu decidi ir, eles tinham acabado de acabar e se preparavam pra mais uma oracao, a ultima.
E ai, mais rojoes, mais musica, e fim :)
Voltamos pra Taipei, e no templo deles eles tem uma ultima cerimonia, as mulheres uniformizadas dancam uma ultima danca.
No meio de tudo isso, eu pensei em quao unica e maravilhosa esse oportunidade eh, e em quanto eu gostaria que voces estivessem lah pra ver.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Eh um beco cheio de sol
Eh poder ver o rio do metro.
Sao as arvores e as libelulas.
E as motos. Sempre as motos, soh que agora tambem percebem-se as bicicletas.
Sao os olhinhos puxados atras de oculos, sao os cabelos repicados.
Eh mais pele e osso do que carne e osso.
Eh ter gente querendo te receber e conversar com voce soh por causa do formato dos seus olhos.
Eh conviver com pessoas de 15 paises diferentes e achar isso normal.
Sao os dez minutos entre cada aula, e o cha com leite e chocolate de todo dia. E a luta pra chegar na hora.
E os caracteres em diferentes fontes.
Eh um doce por dia, no minimo. E problemas de estomago.
Eh o vento nas arvores. Sao cinco estacoes pra se ver o mar, e quinze pra se ir pra escola.
Eh poder ver a montanha de uma janela e a cidade de outra.
Eh o conforto. Aquela sensacao de "se acostumando", sabe? Poder ficar em silencio sem medo.
Mas odiar o silencio em outras situacoes.
Eh o orgulho de falar aquele pouquinho de chines, e a angustia de soh falar aquele pouquinho de chines. Vai entender.
Eh comecar um dia triste e acabar ele com um humor excelente.
Eh ter certeza das amizades, e depois a solidao.
Eh o confronto com a propria ignorancia, principalmente ignorancia interior. Sobre o seu proprio pais, a sua propria pessoa. Poxa vida, como eh que se vive no Brasil? E qual eh o jeito Juliana de responder essa pergunta?
Sao as lembrancas de casa vindo aos poquinhos, em ondas, na pacoca dentro do doce taiwanes ou no dedilhar de um violao na sala de aula ("meu irmao toca essa musica!"). Ou nas frases de uma agenda com fitinhas verde-amarelas.
Eh a criacao de novas lembrancas. Momentos divertidos e piadinhas bobas que agora sao tudo, e um dia serao soh lembrancas, pra depois se apagar completamente.
Eh se ter ainda todo o ano pela frente, e a percepcao de que cada dia mais quer dizer um dia a menos (pelo menos nessa familia).
Eh Taiwan, dois meses.
(na verdade, dois meses daqui a dois dias, mas enfim)
Sao as arvores e as libelulas.
E as motos. Sempre as motos, soh que agora tambem percebem-se as bicicletas.
Sao os olhinhos puxados atras de oculos, sao os cabelos repicados.
Eh mais pele e osso do que carne e osso.
Eh ter gente querendo te receber e conversar com voce soh por causa do formato dos seus olhos.
Eh conviver com pessoas de 15 paises diferentes e achar isso normal.
Sao os dez minutos entre cada aula, e o cha com leite e chocolate de todo dia. E a luta pra chegar na hora.
E os caracteres em diferentes fontes.
Eh um doce por dia, no minimo. E problemas de estomago.
Eh o vento nas arvores. Sao cinco estacoes pra se ver o mar, e quinze pra se ir pra escola.
Eh poder ver a montanha de uma janela e a cidade de outra.
Eh o conforto. Aquela sensacao de "se acostumando", sabe? Poder ficar em silencio sem medo.
Mas odiar o silencio em outras situacoes.
Eh o orgulho de falar aquele pouquinho de chines, e a angustia de soh falar aquele pouquinho de chines. Vai entender.
Eh comecar um dia triste e acabar ele com um humor excelente.
Eh ter certeza das amizades, e depois a solidao.
Eh o confronto com a propria ignorancia, principalmente ignorancia interior. Sobre o seu proprio pais, a sua propria pessoa. Poxa vida, como eh que se vive no Brasil? E qual eh o jeito Juliana de responder essa pergunta?
Sao as lembrancas de casa vindo aos poquinhos, em ondas, na pacoca dentro do doce taiwanes ou no dedilhar de um violao na sala de aula ("meu irmao toca essa musica!"). Ou nas frases de uma agenda com fitinhas verde-amarelas.
Eh a criacao de novas lembrancas. Momentos divertidos e piadinhas bobas que agora sao tudo, e um dia serao soh lembrancas, pra depois se apagar completamente.
Eh se ter ainda todo o ano pela frente, e a percepcao de que cada dia mais quer dizer um dia a menos (pelo menos nessa familia).
Eh Taiwan, dois meses.
(na verdade, dois meses daqui a dois dias, mas enfim)
sábado, 10 de outubro de 2009
Cape no7
Filmes orientais sao diferentes, sei lah. Nao sao tao "planos". Nao tem o bonzinho e o malvado. Tem pessoas, cada uma com o seu fardo e a sua alegria no passado. O final nao eh bem o final.
Filmes orientais sao mais poeticos, acho eu.
Nao que eu tenha visto muitos. De fato, no Brasil eu vi uns dois, tres no maximo.
Em Taiwan, esse foi o primeiro (e, ateh agora, unico).
Comecou com um iPod emprestado na hora da soneca. Uma musica escolhida ao acaso (jah que eu nao entendia o que estava escrito), o nome do filme escrito no caderno.
Depois, procurar no youtube. "Cape no7". Ouvi a musica, algumas outras, gostei. Me diverti por alguns momentos, esqueci.
De vez em quando, procurava no youtube e ouvia mais uma vez. E pronto.
Depois, veio o Festival da Lua, e a viagem a cidade natal do meu host pai, para celebrar com a familia. E, durante o dia, antes das comemoracoes, levar a estrangeira passear pela cidade. Passeio de turista: fomos subir numa montanha de sal. Na loja de lembrancinhas, em meio a pedras e pastas de dente salgadas, estava, lah a venda uns colares com pingentes estranhos. E em cima, um cartaz... umas pessoas... Um filme! Eu conheco! "Johnny! Voce conhece esse filme? Nos podemos assistir?"
"Hmm... pede pro Home Pa"
[Home Pa = Host Pai]
"Oh, sim sim. Nos temos o CD em casa, voce pode assitir."
O Cd deles era gravado. Copiado, se preferirem. Ou seja: nao havia opcao de legendas em ingles.
"Ora, voce esta ai pra aprender chines"
De fato, deu pra pescar algumas coisas do filme. Ouvindo os dialogos (os que estavam em chines, porque a maioria, pelo que eu li, estavam em taiwanes) ou lendo as legendas em chines. Da mini-mini-mini explicacao do meu host pai.
Do proprio filme, das imagens, atuacao.
Mas, mais do que entender a historia, eu comecei a gostar.
Era bem diferente do que eu esperava, tendo visto pelo youtube.
Mas nem por isso eu gostei menos.
Olhava os cenarios e pensava "eu moro aqui".
Me encantava com as cenas.
E a musica, perfeita.
Resultado: sabia bem pouquinho da historia, mas jah tinha me apaixonado pelo filme.
Depois veio um dia cinza e ventante, lindo pra caramba.
"Hoje nos temos que sair, voce pode tomar o seu cafe-da-manha fora"
Primeiro cafe-da-manha com cafe em meses. O dia cinzento me convidou a dar um passeio pelo bairro. Com duas daquelas maquinas de "garra" na porta, entrei numa livraria pequena, com estantes lotadas de livros em sequencias, sofazinhos, ideogramas... e filmes.
Procurei por ele. Filme dos Eua, filme dos Eua, filme doa Eua... porcaria, cade os de Taiwan? Achei!
Quatro deles, um ao lado do outro.
"Tem legendas em ingles?"
"Tem"
"Quanto custa?"
"Blablabla (chines imcompreensivel)"
"[depois de inumeras tentativas de comunicacao]Desculpe, meu chines nao eh bom. Vou pedir ajuda ao meu host pai e depois volto aqui".
"Na verdade, aqui eles nao vendem, eles soh alugam. Voce quer alugar? Hoje a noite eu e sua Home Ma [=host mae] vamos voltar pra casa bem tarde, voce pode assitir"
"Oh, quero sim, obrigada"
Munida de agua, Kinder Ovo e Kinder Bueno - meu kit filme - pus a configuracao das legendas "ying wen" (ingles), assitiao trailer, e apertei play, pra finalmente entender o filme que eu jah sabia o final.
Jah saber o final nao impediu que meus olhos ficassem molhados na ultima cena.
Nao impediu que eu voltasse a cena dos creditos mais uma vez, pra ouvir a musica.
Nao impediu que eu ficasse em silencio depois de tirar o filme do aparelho e desligar a TV.
E nao me impediu de ouvir a musica tema, o tempo todo em que escrevo esse post.
Tornou-se um dos preferidos. Talvez por que, alem da historia, eu esteja assintindo aqui. Talvez por que seja taiwanes. Talvez porque eu jah tivesse visto e ouvido tanto no youtube que jah estivesse querendo gostar.
Talvez.
Mas eu nao acho que seja por nada disso. Querer gostar de um filme, seja lah qual for o motivo, soh torna a decepcao ainda maior quando ele eh ruim.
E a minha unica decepcao vendo esse filme foi ele ter acabado.
Se me perguntarem, recomendo.
Se perguntarem ao critico que fez a revisao que eu acabei de ler, ele vai dizer que "o filme eh bom, mas nao eh lah essas coisas. Eh comercial, e nao faz nada inesperado, mas faz isso de um jeito que o publico goste, como todo filme comercial deve ser".
E se me perguntarem sobre a critica, eu nao ligo.
Eu gostei.
Alem do mais, o que faz a gente gostar de um filme, de um lugar, de uma pessoa, ou de qualquer outra coisa, nao eh a tecnica, o curriculo, os premios.
E sim o jeito que ele nos faz sentir.
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